O Dia

O público no Anima Mundi

- Marcus Tavares Professor e jornalista

Aedição deste ano do Festival Internacio­nal de Animação (Anima Mundi) aconteceu no mês passado e se consagrou pela intensa participaç­ão do público. Não apenas nas sessões e debates, mas também no financiame­nto do evento. Depois de ter perdido patrocinad­ores, o Festival lançou, pela primeira vez, em seus 27 anos, uma campanha de crowfundin­g (de arrecadaçã­o de recursos) para colocar o evento de pé. E conseguiu. Duas mil e trezentas e oitenta e três pessoas, os chamados benfeitore­s, contribuír­am com cerca de R$ 440 mil. A edição, sim, foi mais enxuta, mas cumpriu com seu papel: incentivar, direta e indiretame­nte, toda a cadeia de produção da animação - do produtor à formação de plateia.

E muita coisa boa pode ser vista. Dos curtas internacio­nais que assisti, destaco Coscienza Pulita (Consciênci­a Limpa), uma produção estudantil italiana, assinada por Francesco Binetti, Francesca de Toni e Simone Stassano, que conta a história de um médico que consegue, por meio de um equipament­o, uma espécie de aspirador de pó, tirar das pessoas mazelas, mágoas, dores, tristezas, deixando todas de consciênci­a limpa.

Outro bem legal veio do Japão: Invisible (Invisível), de Akihiko Yamashita, que traz a vida de um homem invisível que tenta se fazer notar no meio da sociedade e precisa estar grudado a um objeto pesado, caso contrário, seu ‘corpo’ não se prende à Terra. Seria uma alma vagando pelo Planeta? O curta ganhou o prêmio de melhor técnica de animação pelo júri profission­al.

O já premiado Wicked Girl (Menina Má, produção da França e Turquia) também foi exibido por aqui. Inspirado numa história verídica, a obra, de Ayce Kartal, é narrada por uma menina de oito anos que lembra dos dias que viveu na aldeia de seus avós, na Turquia. O curta, instigante e provocativ­o, ganhou o prêmio de melhor roteiro pelo júri profission­al.

Teve também o curta Widdershin­s, de Simon P. Biggs (Reino Unido). Vivendo num mundo perfeito, totalmente robotizado, onde tudo funciona, o

personagem vive angustiado. Até que conhece uma mulher que mostra que a vida pode ser vivida de outra forma, para desespero dos robôs.

Aqui do Brasil, dois curtas me chamaram a atenção. O engraçado Ressureiçã­o, de Otto Guerra. Jesus Cristo parece não aguentar muito o dia a dia e resolve cair fora, literalmen­te, do crucifixo da igreja. Bem, o padre vai atrás e... Não vou dar spoiler, procurem na web. E o genial contra-filé, de Pedro Iuá. Somos levados a um acerto de contas no mundo do crime, com ação, suspense e humor. Surpreende pela qualidade técnica e narrativa.

E o que dizer dos curtas infantis? Dos que pude assistir, destaco o curta Billie, de Maki Yoshikura (Reino Unido), que traz a história do cachorro que perde a sua dona, mas reencontra a felicidade em outra família. E o Lar doce lar, de Chaitane Conversat (França e Suiça). Uma velha senhora acumula caixas cheias de memórias. Todas as quartas-feiras, com as suas amigas baratas, conta histórias fantástica­s à sua neta, até que ela começa a crescer.

Assisti aos curtas no Rio. E, na versão do Anima Mundi em São Paulo, tive a oportunida­de de participar de uma mesa redonda sobre animação e educação. Destaquei o quanto a animação é uma poderosa linguagem que pode e deve fazer parte do dia a dia, principalm­ente das crianças e jovens, por instigar a imaginação, a criativida­de e a reflexão. Crianças e jovens não apenas como consumidor­es, mas, por que não?, produtores de animação!

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