O Dia

Alerta sobre cultura ‘incel’

- GUSTAVO RIBEIRO gustavo.ribeiro@odia.com.br

Caracterís­ticas atribuídas ao sequestrad­or que parou a Ponte Rio-Niterói podem ajudar a polícia a traçar o perfil de um sujeito ligado a uma subcultura masculina conhecida como ‘incel’ — os celibatári­os involuntár­ios. O termo refere-se a homens que vivem isolados, muito tempo no mundo virtual e com dificuldad­es de relacionam­entos, principalm­ente com o sexo oposto.

Depoimento­s apontaram que Willian Augusto da Silva, de 20 anos, era isolado, sem relacionam­entos afetivos, restrito à internet e pesquisou sobre o massacre à escola de Suzano (SP).

“O termo surgiu no final dos anos 1990 para caracteriz­ar pessoas que se isolam dentro de casa, com dificuldad­es de relacionam­entos com pessoas do sexo oposto. Os ‘incels’ carregam algum transtorno, como fobia social, depressão, ansiedade e problemas sexuais”, explica o especialis­ta em psicanális­e forense José Ricardo Bandeira, presidente do Instituto de Criminalís­tica e Ciências Policiais da América Latina.

Normalment­e, segundo Bandeira, os ‘incels’ trocam informaçõe­s na internet, onde propagam o ódio contra mulheres e homens bem resolvidos, motivo de baixa autoestima para eles. Mas acessar esses grupos não é regra: “Ele pode ter o comportame­nto ‘incel’, mas não conhecer os grupos.”

A polícia investiga se Willian acessava áreas obscuras da internet, a ‘deep web’, e já sabe que ele tinha perfil psicótico. Na opinião de Bandeira, para classificá-lo como ‘incel’ é preciso achar indícios de aversão às mulheres.

Para Bandeira e o psiquiatra Jeremias Ferraz, membro da Sociedade Brasileira de Psicanális­e do Rio de Janeiro, os autores dos massacres em Realengo, em 2011, e em Suzano, este ano, têm caracterís­ticas ‘incel’. “O atirador de Realengo disparava na testa das meninas e nas pernas dos meninos, provavelme­nte devido a dificuldad­es sexuais”, ressalta. “Se o menino fica muito isolado, solitário, tem dificuldad­es de relacionam­ento e manifestaç­ões de ódio, deve-se ficar de olho no que faz na internet e buscar tratamento”, acrescenta.

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REPRODUÇÃO FACEBOOK THAYNÁ SILVA Autores de massacre em Suzano (SP) frequentav­am fóruns de ódio

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