O Dia

REFÉNS DA VIDA

- Luarlindo Ernesto

Sequestros acabam exigindo uma atuação especializ­ada de agentes de Segurança Pública para evitar desfechos trágicos

Sequestro tem de tudo. De gente, de bens, de aviões, de conta bancária. Tem até sequestro do sossego. O sequestro do ônibus na Ponte Rio-Niterói me fez reviver tristes lembranças de coberturas cicatrizad­as pelo tempo. Como o sequestro do ônibus 174, a primeira lembrança quando se soube do episódio mais recente envolvendo um sequestrad­or e passageiro­s de um coletivo. Mas a prática é antiga. No início dos anos 70, no Rio de Janeiro, nem havia uma delegacia especializ­ada nesse tipo de crime. O detetive Marinho foi escolhido como chefe de uma unidade responsáve­l por esse tipo de investigaç­ão. Ela funcionava em uma sala caindo aos pedaços no velho prédio da Avenida Marechal Floriano. Ficava quase em frente ao suntuoso Palácio Itamaraty. Hoje, nem sabemos o que funciona por lá. Em pouco tempo, a Polícia Civil percebeu que esse tipo de unidade precisaria ser chefiada por um delegado. Aí, então, foi elevada ao status de delegacia. Os fatos nos fazem perceber que há a necessidad­e de gente qualificad­a para atuar nesse tipo de caso. O desfecho trágico do 174, com morte de uma vítima e do bandido, que foi “sacrificad­o”, mostrou que estávamos engatinhan­do. A PM criou um núcleo com psicólogos, negociador­es, atiradores e outros técnicos que não sabemos, ou não divulgamos por motivos de “segurança operaciona­l”. E o caso da morte do sequestrad­or da Ponte, amigos, não foi o primeiro com o bandido morto.

Em uma manhã de outubro de 2012, na Avenida 28 de Setembro, em Vila Isabel, um oficial da PM, sniper, matou com um certeiro tiro na testa um criminoso que, encurralad­o, ameaçava matar uma refém. O cara tinha até uma granada! Ele havia tentado roubar um carro dos Correios e não conseguiu. Procurou refúgio em uma farmácia naquela área. E, cercado pela PM, fez a refém. Nos anos 80, dois jornalista­s foram reféns de um bandidão, o Maurinho Branco, em sítio de Teresópoli­s, na Região Serrana. Até um delegado entrou na lista dos reféns. Na verdade, vamos vivendo como reféns da vida em meio ao caos urbano e à violência do nosso cotidiano.

 ?? RICARDO CASSIANO ?? O sequestrad­or Willian Augusto da Silva segundos antes de ser morto na Ponte Rio-Niterói, na terça-feira
RICARDO CASSIANO O sequestrad­or Willian Augusto da Silva segundos antes de ser morto na Ponte Rio-Niterói, na terça-feira
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