Morde e assopra no Planalto
Após turbulência na relação com Moro, Bolsonaro chama o ministro da Justiça de ‘patrimônio nacional’
Após um período turbulento na relação com Sergio Moro por causa de decisões envolvendo troca de cargos na Polícia Federal, Jair Bolsonaro colocou panos quentes na crise. Ontem à tarde, em uma cerimônia no Planalto para promover o lançamento do projetopiloto de combate a crimes violentos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o presidente se referiu ao ex-juiz como “patrimônio nacional” ao falar sobre a iniciativa, chamada de “Em Frente, Brasil”.
O discurso foi recebido por aplausos de uma plateia formada por ministros e parlamentares. “Obrigado, Sergio Moro. Vossa senhoria abriu mão de 22 anos de magistratura para não entrar em uma aventura, mas, sim, na certeza de que todos nós juntos podemos, sim, fazer o melhor para a nossa pátria”.
Durante o ato, Bolsonaro e Moro desceram a rampa do Planalto juntos. E pararam no meio do caminho para posar para fotos, acenando. Onyx Lorenzoni, ministrochefe da Casa Civil, também elogiou Moro e o chamou de melhor ministro da Justiça que o Brasil já teve. Onyx lembrou o trabalho de Moro quando atuava como juiz federal e falou que sua escolha foi um “clamor das ruas”.
À noite, voltou a elogiar o ministro e a minimizar a desavença,
em sua live semanal transmitida pelo Facebook. “O Sergio Moro está fazendo um trabalho excelente como ministro. De vez em quando, há um atrito”, disse. “Tenho nenhum problema com o Moro. Mais uma vez, Moro, parabéns pelo teu projeto de hoje (ontem) de combate à corrupção e a crimes violentos”.
O Sergio Moro está fazendo um trabalho excelente como ministro. De vez em quando, há um atrito JAIR BOLSONARO, presidente
PF E O FIM DA CARTA BRANCA
A relação estremeceu há duas semanas, quando Bolsonaro mudou a postura em relação a Moro, anunciado como um ministro com “carta branca” para comandar a pasta. O presidente anunciou a saída do superintendente da Polícia Federal no Rio, Ricardo Saadi. Em seguida, a instituição divulgou nota, informando a substituição, em escolha feita por Maurício Valeixo, diretor-geral da PF.
Ao falar sobre o caso, Bolsonaro citou Moro, indiretamente. “Se ele resolveu mudar, vai ter que falar comigo. Quem manda sou eu, vou deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu”, disse. “Quando vão nomear alguém, falam comigo. Eu tenho poder de veto, ou vou ser um presidente banana agora? Cada um faz o que bem entende e tudo bem?”. Na semana passada, Bolsonaro chegou a ameaçar uma troca no comando da PF.
Em entrevista à GloboNews exibida na quarta-feira, o ministro afirmou que Maurício Valeixo vai continuar no cargo. “As coisas eventualmente podem mudar, mas ele permanece no cargo. Tem a minha confiança”. Entretanto, o ministro não quis comentar as declarações de Bolsonaro. “Não cabe ficar comentando afirmações do presidente”.
Após ter supostamente recebido uma vaga no secretariado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que deve disputar as eleições presidenciais de 2022, Moro negou que vá sair do ministério e disse que não pretende se candidatar a cargo político.