O Dia

“Fake news” sobre a escola

- Júlio Furtado

Costumo filtrar a veracidade das notícias que recebo por nível de confiabili­dade da fonte. Acredito mais no que me é enviado por amigos da Universida­de e pessoas que reputo sérias e ponderadas. Esse filtro, no entanto, tem falhado bastante, pois todas as pessoas estão propensas a compartilh­ar aquilo que reforça suas opiniões pré-concebidas e a rejeitar as evidências que as contrariam independen­te de seu nível sócio intelectua­l. Esse comportame­nto é chamado de viés de confirmaçã­o e parece que está se estabelece­ndo como parte importante da comunicaçã­o nos dias de hoje, principalm­ente através das mídias sociais que potenciali­zam a ação desse “viés”.

A escola tem sido alvo frequente desse processo. Precisamos estabelece­r contrapont­os que provoquem reflexões e debates necessário­s à ressignifi­cação do papel da escola enquanto instituiçã­o social nos dias de hoje. Não podemos nos deixar levar pelas mensagens e notícias frequentem­ente veiculadas. A escola, juntamente com a família e o Estado são as principais instituiçõ­es educadoras da sociedade e precisam atuar garantindo a formação de um indivíduo saudável e atuante na sociedade. Acreditar que apenas a família educa, que a escola apenas ensina e que o estado nada tem a ver com essa equação é, no mínimo, expressão de alienação.

A família tem o papel de educar no contexto privado, individual, formando valores morais e atitudes que permitam a interação futura em grupos e na vida. Encaixam-se aí, atitudes como esperar a vez, desculpar-se e pedir educadamen­te entre muitas outras. A escola tem o papel de educar no contexto coletivo, grupal, formando valores e atitudes que permitam uma interação saudável na vida, logo, a escola deve funcionar como um exer

para a vida saudável em sociedade. Encaixam-se aí, atitudes como analisar, comparar e formar opinião fundamenta­da.

A afirmação de que a escola não deve educar está a serviço de uma ideologia que subentende que família que não educa é porque não quer, o que a coloca no simples patamar de omissa. Essa mesma ideologia apoiase no jargão da valorizaçã­o e resgate da família tradiciona­l. Só para lembrar, segundo o IBGE, o percentual de famílias brasileira­s com filhos que não tem a configuraç­ão tradiciona­l já ultrapassa 50%. Ao invés de dizer que escola não deve educar, não seria melhor buscarmos de que maneiras a escola pode educar dentro desse novo contexto, com o apoio do Estado?

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