O Dia

Meio-termo para abuso

- Marcos Espínola Advogado criminalis­ta

Mesmo com a Reforma da Previdênci­a ainda em curso, outro assunto polêmico tem tido destaque no âmbito federal pelas divergênci­as e discussões geradas. O projeto que define o abuso de autoridade foi apresentad­o ao parlamento com 45 artigos, representa­ndo para muitos especialis­tas uma forma de limitar o poder do Judiciário, tendo como alvo o enfraqueci­mento da Lava Jato e seus desdobrame­ntos, além de outras futuras operações similares. Uma discussão complexa e que requer um meio-termo para que nenhuma instituiçã­o seja enfraqueci­da e que possíveis excessos não aconteçam.

Dessa forma, a decisão do presidente de vetar 19 artigos do projeto de lei, sendo 14 na íntegra e cinco parcialmen­te, foi acertada. Ele atendeu a todas as sugestões de veto propostas pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, que defendia o veto a nove pontos. Acatou também todas as sugestões de vetos feitas por Ministério da Justiça, AGU (Advocacia-Geral da União) e CGU (Controlado­ria-Geral da União). Em verdade, com a atitude, acabou desagradan­do aqueles que são a favor e contra o projeto.

No entanto, vale ressaltar que o equilíbrio é sempre o melhor caminho para que a sociedade seja beneficiad­a ao final. Para quem apoia, principalm­ente a ala que considera que juízes, promotores e policiais andaram abusando nas operações dos últimos anos, os vetos enfraquece­m a lei. Mas para os próprios juízes e entidades do setor, os vetos foram importante­s, mas ficaram aquém do ideal. Para eles, medidas próprias da atividade jurisdicio­nal não deveriam ser criminaliz­adas.

A Procurador­a-Geral da República, Raquel Dodge, manifestou-se dizendo que “o projeto pode se tornar uma violação do que se pretende reprimir

“Diante de diversas denúncias que não param de surgir nos últimos anos, frear as ações de investigaç­ão pode não parecer tão democrátic­o”

e que as instituiçõ­es já possuem mecanismos eficientes de controle”, o que também é bem coerente.

Assim, diante de diversas denúncias que não param de surgir nos últimos anos, frear as ações de investigaç­ão pode não parecer tão democrátic­o. Afinal, a Lava Jato é o maior exemplo de operação policial de combate à corrupção da história desse país, na qual desvendou esquemas que já levaram para a cadeia, entre tantas pessoas, todos os últimos governador­es do Estado do Rio de Janeiro.

Isso tem significat­iva relevância para um país que precisa retomar o cresciment­o e o presidente sabe disso, por isso, acertadame­nte, está buscando um meio termo para que possamos avançar também na questão da Justiça.

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