Na mira da opinião pública e do MP No radar após compra em gráfica
Criticados por opositores e em lados opostos, Carlos Bolsonaro e David Miranda são investigados
Dois políticos que ganharam destaque no cenário nacional nos últimos meses entraram na mira do Ministério Público do Rio. O órgão investiga denúncias de uso de funcionários fantasmas e prática de “rachadinha”, como é conhecida a devolução de salários, no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que ganhou projeção ao se envolver em polêmicas na internet com opositores do governo Bolsonaro. Em outro procedimento, um relatório enviado ao MP pelo antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) indica movimentação atípica de R$ 2,5 milhões na conta do deputado federal David Miranda (PSOL), casado com o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, editor do site The Intercept, que divulgou vazamento de mensagens atribuídas a membros da Operação Lava Jato.
Investigações contra Carlos Bolsonaro foram abertas com base em reportagem da revista Época, de junho. Segundo a publicação, o vereador empregou sete parentes de Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro. Mesmo nomeados, dois deles admitiram à reportagem que nunca deram expediente no gabinete do vereador do PSC. O MP apura suspeitas de que outros
três profissionais contratados também nunca trabalharam na Câmara Municipal do Rio.
A investigação criminal está sob responsabilidade do procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, com apoio do Grupo de Atribuição Originária Criminal (Gaocrim). Outra apuração na esfera cível verifica se houve eventual improbidade administrativa, em processo na 8ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania da Capital. A reportagem ligou para o gabinete do vereador e ainda pediu um posicionamento por e-mail sobre o caso, mas não obteve retorno até o fechamento da edição.
DEPÓSITOS FRACIONADOS
No caso envolvendo David Miranda, o Coaf mostra suspeita que o fracionamento dos depósitos em espécie, com valores que variavam entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil, reforça a suspeita da prática de “rachadinha”, com devolução de parte de salários de funcionários. Em nota, David Miranda afirmou que o trabalho como parlamentar não é sua única fonte de renda. Disse ter uma empresa de turismo com o marido. E que, por isso, os valores movimentados não seriam atípicos porque envolveriam dinheiro dessa empresa. Mas ele não detalhou quais são os serviços prestados.
O relatório do antigo Coaf sobre as movimentações na conta de David Miranda entre abril de 2018 e março deste ano foi encaminhado ao MP em 11 de junho — dois dias depois da divulgação dos vazamentos atribuídos a membros da Operação Lava Jato pelo site The Intercept, editado pelo seu marido. No Twitter, o jornalista Glenn Greenwald classificou o relatório como uma retaliação à Vaza Jato, como ficou conhecida a série de reportagens.
Entretanto, não há ligação direta entre o relatório e as mensagens sobre a força-tarefa. Segundo o órgão federal, o deputado só entrou no seu radar porque contratou o serviço de uma das gráficas de Mangaratiba, na região metropolitana do Rio, investigada por supostas ilegalidades. O Coaf, agora ligado ao Banco Central, passou a se chamar de Unidade de Inteligência Financeira.