O Dia

Salve Tinguá!

- Max Lemos Advogado e Deputado Estadual pelo MDB-RJ

Reserva ou Parque Nacional? Tenho observado as manifestaç­ões em torno do assunto e estou cada vez mais perplexo com o desenvolvi­mento da questão. Tinguá está acima de qualquer interesse lucrativo. O lugar é naturalmen­te forte, rico e poderoso, com uma beleza exuberante de dar inveja. Mas antes de questionar se a Reserva Biológica do Tinguá — — que, desde 1997, é considerad­a pela Unesco como Patrimônio da Humanidade — deve virar Parque Nacional, com venda de ingressos e visitações, deve-se perguntar para quem mora no seu entorno se Tinguá tem saneamento básico em todas as ruas, iluminação nas vias, unidades de saúde funcionand­o com decência, escolas públicas com todos os equipament­os necessário­s, mobilidade urbana perfeita.

Isso não é perguntado, não interessa. Aliás, não interessa não só agora, como há muitos anos. Tinguá está abandonada, carente de muitos serviços. Os moradores dos arredores da cobiçada reserva, dona de fauna e flora invejáveis, parte da biosfera da Mata Atlântica, estão à mercê da própria sorte, mal servidos de linhas de ônibus, de cuidados e bons projetos. A população de cachorros jogados na “pracinha” do centro cresce assustador­amente: muito descaso! A “ponte” para acessar a região, malconserv­ada,

destruída com o tempo, só permite a travessia de um carro de passeio por vez. Desejaram transforma­r em parque, mas será que o mesmo grupo já se preocupou com os caçadores que agem clandestin­amente por mata adentro, executando animais silvestres?

Como reserva biológica, apenas pesquisado­res — ou outras pessoas devidament­e autorizada­s podem entrar no local. Se virar parque, a reserva terá a presença constante de visitantes. Os defensores desta modalidade

“A título de curiosidad­e, a reserva biológica do Tinguá faz parte do sistema Acari da Cedae e abastece a Zona Norte do Rio”

alegam que a iniciativa irá gerar empregos para o município. Em contrapart­ida, seria difícil controlar qualquer tipo de degradação, pois a reserva é muito grande. Afinal, estou enganado ou querem “privatizar” nossa reserva biológica?

O clima da região e os lugares pitorescos por si só já representa­m o grande potencial turístico de Tinguá. Não tenho dúvidas que organizand­o e levando infraestru­tura haverá também geração de empregos. Qual é a necesde sidade do Parque? A quem interessa transforma­r em Parque?

Tinguá é grande produtor de mandioca (aipim), mas já perguntara­m para os produtores, agricultor­es o que eles precisam para escoar as mercadoria­s e as dificuldad­es que enfrentam no dia a dia? Ah, não! Isso não interessa. A voz dos sitiantes também não. E os moradores de Vila de Cava, Jaceruba, Rio D’Ouro, bairros tão pertinhos e não menos carentes? Há fiscalizaç­ão para as empresas degradador­as do meio ambiente local? Não podemos esquecer da Fazenda São Bernardino, berço de parte da história brasileira, largada em ruínas, patrimônio de antigas lembranças. Amparada e protegida por ambientali­stas, Tinguá fica a apenas 40 minutos de distância da Prefeitura, que há muitos anos virou as costas para aquela região.

Estamos assistindo assustados às queimadas na Floresta Amazônica, que é considerad­a o “pulmão do mundo”. Tinguá (ainda) não está sofrendo com o fogo nas matas, mas o que “queima” mesmo é sabermos que a região, que ouso chamar carinhosam­ente de “pulmão da Baixada”, carece de melhorias. A título de curiosidad­e, a reserva biológica do Tinguá faz parte do sistema Acari da Cedae e abastece a Zona Norte do Rio.

O debate não deve ser se Tinguá continua como reserva ou vira parque. Todos devemos nos unir para preservarm­os este patrimônio, que é fundamenta­l para o meio ambiente e para toda a população. Salvemos Tinguá! A natureza agradece!

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