Tragédias se repetem sem legislação contra incêndio
Criação de código de conduta poderia evitar desastres como o que matou 11 pessoas no Hospital Badim
Mesmo após diversas tragédias provocadas por incêndios no Brasil, como os casos da Boate Kiss (2013), Museu Nacional (2018), Ninho do Urubu (fevereiro de 2019) e do Hospital Badim, no Maracanã, anteontem, o país não possui uma legislação padronizada de prevenção de acidentes com fogo. O alerta é feito pelo engenheiro Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de riscos e segurança. Para ele, a criação de um código nacional poderia evitar desastres como o que matou 11 pessoas em decorrência do incêndio que se espalhou no Hospital Badim, associado à gigante Rede D’Or São Luiz.
“Não temos um código de prevenção de incêndio a nível nacional para que seja utilizado o mesmo tipo de padronização de Norte a Sul. Isso poderia melhorar e muito a nossa prevenção de incêndios”, afirma Gerardo Portela. Além disso, de acordo com Portela, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) prevê cerca de 100 normas genéricas, que servem de parâmetro para as construções, mas não determinam cada tipo de estabelecimento.
Somente em abril, a ABNT lançou regras para prevenção de incêndio em hospitais, um mês após a inauguração do prédio novo do Hospital Badim, anexo ao edifício incendiado, que funcionava há 19 anos. “A ABNT não faz normas muito específicas, ao contrário da NFPA (Associação de Proteção Nacional contra Incêndio, dos Estados Unidos). Eles têm norma para tudo, até para museus. O Brasil não tem e não tinha nem para hospital. E tem as normas de cada município, de cada estado. É confuso, esse é o problema”, reforça Portela.
PERGUNTAS SEM RESPOSTAS
Segundo apuração preliminar da polícia, o fogo começou por um curto-circuito no gerador, no subsolo do prédio antigo, espalhando fumaça para todos os andares. A direção do hospital disse que houve duas quedas de energia antes do incêndio. A Light negou a informação. Especialista em gestão de saúde, Chrystina Barros aponta que muitas dúvidas precisam ser esclarecidas: “Tem que se esclarecer como foi a interrupção de energia, como o gerador entrou, se houve falha técnica, como eram as condições de manutenção. Todos os protocolos serão revisitados, mas é precoce afirmar qualquer coisa mais determinante ou que tenha havido falha”, ressalta a especialista.
O Hospital Badim informou que 77 dos 103 pacientes que estavam no prédio durante o incêndio seguiam internados em 12 unidades de saúde, públicas ou privadas. Outras 20 pessoas, entre funcionários e acompanhantes, também foram hospitalizadas. “Todos os recursos humanos e materiais foram dedicados totalmente a esse resgate extremamente difícil”, declarou o diretor-médico, Fabio Santoro.