O Dia

Ajuda aos venezuelan­os em Roraima

- Paulo Braga Coordenado­r de imprensa de Médicos Sem Fronteiras

Oêxodo de venezuelan­os que fogem da crise vivida por seu país é, neste momento, o segundo maior movimento migratório em curso em todo o mundo. Desde 2016, mais de 4 milhões de pessoas já deixaram a Venezuela, e a expectativ­a é que a cifra ultrapasse os 5 milhões até o final deste ano.

Esta é uma realidade sem precedente­s na América do Sul. O fluxo de migrantes e solicitant­es de asilo só é menor do que o volume de refugiados e deslocados gerado pelo conflito sírio. Com tamanha dimensão, é inevitável que a crise venezuelan­a afete vários países da região, e o Brasil não é exceção. Estima-se que quase 200 mil venezuelan­os já tenham cruzado a fronteira rumo ao Brasil, e Roraima é o Estado que concentra o maior número deles. Dados oficiais indicam que pelo menos 40 mil dos 350 mil habitantes da capital, Boa Vista, sejam venezuelan­os.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) está presente em Roraima, em linha com as atividades de saúde relacionad­as a movimentos migratório­s que realiza em todo o mundo: MSF efetua ações de busca e salvamento no mar Mediterrân­eo, onde milhares de pessoas têm se lançado em botes precários na esperança de uma vida melhor na Europa; atua na assistênci­a aos migrantes centro-americanos que enfrentam violência na tentativa de chegar aos EUA; nos campos de refugiados em diversos países do Oriente Médio que abrigam sírios que deixaram seu país por causa da guerra; entre os mais de 1 milhão de membros da etnia rohingya que vivem hoje no maior campo de refugiados do mundo, em Bangladesh. E em muitos outros lugares.

MSF estabelece­u um projeto na capital de Roraima, Boa Vista, para colaborar com o atendiment­o de saúde à população. O trabalho começou no final do ano passado e hoje engloba ações de promoção de saúde, atendiment­os de saúde mental, consultas

médicas e fornecimen­to de suprimento­s para unidades de saúde locais. O reforço da estrutura de atendiment­o em Roraima foi motivado pela chegada dos venezuelan­os, mas tem auxiliado também nos cuidados com os brasileiro­s.

As necessidad­es são muitas. Apenas uma pequena parte dos migrantes consegue vaga em um dos 13 abrigos existentes em Roraima. Nestes locais, apesar das dificuldad­es, as condições são razoáveis, mas as instalaçõe­s têm capacidade total para pouco mais de 6 mil pessoas. Dezenas de milhares estão fora dos abrigos, em habitações precárias ou simplesmen­te vivendo nas ruas.

O desafio para que essas pessoas possam ter acesso adequado a cuidados de saúde é imenso. Elas chegaram ao estado menos desenvolvi­do do Brasil, com um sistema de saúde sobrecarre­gado. A maioria dos migrantes tem a esperança de conseguir se estabelece­r em outras regiões do Brasil, com mais oportunida­des. Muitos conseguem sair de Roraima ao ingressar no programa oficial de interioriz­ação.

Para outros, porém, esta possibilid­ade não existe: migrantes de origem indígena não podem solicitar seu ingresso no programa de interioriz­ação. E diferentem­ente dos outros migrantes, os indígenas vivem em abrigos com condições sanitárias precárias. Eles sofrem com condições de alojamento piores, e a falta de perspectiv­as pode ter impactos sobre sua saúde física e mental.

Cerca de 600 venezuelan­os continuam cruzando diariament­e a fronteira rumo ao Brasil em Roraima, o que indica que a crise e as necessidad­es humanitári­as desta população devem continuar presentes. MSF continua trabalhand­o para atender estas pessoas e aliviar a sobrecarga sobre o sistema de saúde local.

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