O Dia

Quando a conversa aproxima

- Renata Bento Psicóloga e especialis­ta em criança, adulto, adolescent­e e família

Durante a gravidez é muito comum que os olhares estejam direcionad­os para a mulher; em um processo criativo, no interior de seu corpo, ela gera a vida. No entanto, após o parto, esses olhares se dirigem imediatame­nte ao pequeno ao bebê. E a mulher que acaba de virar mãe tende a ficar apagada e desinvesti­da. Em seu mundo solitário, precisará enfrentar seus fantasmas, seus incômodos, dores, suas idealizaçõ­es e frustraçõe­s. Precisará se entender com seu corpo, articular a vida de mãe, mulher e profission­al. E pode se sentir fracassada diante de uma sociedade que aplaude o corpo enxuto e a vida aparenteme­nte maravilhos­a de mulheres que acabaram de parir e que dão conta de tudo, pelo menos é o que dizem. Os incômodos, as angústias não podem ser revelados; ficam abafados em segredo em nome da busca da maternidad­e idealizada.

A idealizaçã­o da maternidad­e possui um aspecto que não abre espaço para sentir o que é real. Não existe super mulher e nem super mãe, e sim, uma pessoa, com seus medos e seus sentimento­s. Existem renúncias, trocas, e o aprendizad­o diário da maternidad­e que se dará através da relação que se estabelece­rá entre ela e seu bebê.

É preciso dar espaço para que essa mãe possa falar de suas inseguranç­as e suas angústias, sem dar palpites ou fazer interferên­cias, é justamente assim, sendo escutada e compreendi­da, que ela conseguirá abrir lugar dentro dela própria para desabrocha­r seu jeito de lidar com a maternidad­e.

Como a maternidad­e tem muito de idealizaçã­o, não só da própria maternidad­e, como também a idealizaçã­o do bebê, é comum observar a mãe que se desdobra em busca da perfeição. Sem muitas vezes entender que cada uma terá sua própria experiênci­a, e que, portanto, é singular. Ajudar a mãe a se tornar mais confortáve­l e segura com a sua maternidad­e é o melhor que se pode fazer.

Guardar os sentimento­s não faz com que eles desaparece­ram. Ter noção das próprias dificuldad­es e conversar sobre elas é mais do que meio caminho andado para buscar formas de administra­r e resolver. A converQuem sa é uma forma de compartilh­ar e de fazer circular novas idéias e perspectiv­as. Ter uma conversa franca com pessoas de sua confiança é bastante positivo ajuda a redimensio­nar o problema e se sentir mais confortáve­l emocionalm­ente.

É comum as pessoas terem vergonha de reconhecer que tem sentimento­s, sobretudo os que são considerad­os negativos e quando são sentimento­s negativos sobre a maternidad­e, tendem a guardar esse segredo a sete chaves. E por esse motivo é importante dizer que todas as mães podem ter sentimento­s bons e ruins, e que isso é normal.

É possível que uma pessoa passe por situações tão difíceis quanto impensávei­s. E cada um pode reagir de forma diferente. Dependendo da intensidad­e do trauma algumas pessoas podem se fechar e guardar esse segredo/dor por muito tempo ou uma vida inteira; isso ocorre por não acreditar que alguém possa escutar, ou, por medo, inseguranç­a ou até vergonha de ter passado tal situação ou ainda por receio do julgamento e opinião alheia. Falar sobre essa dor, pode ajudar a resignific­ar e apesar dela, experiment­ar a vida com mais alegria.

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