O Dia

Guerra quente contra a milícia

Ação para demolir imóveis em área de milicianos, em Jacarepagu­á, terminou com protestos e um carro queimado.

- BRUNA FANTTI bruna.fantti@odia.com.br

APolícia Militar e a Secretaria Municipal de Infraestru­tura e Habitação ( SMUIH) realizaram, ontem, em Jacarepagu­á, na Zona Oeste, uma operação para demolir construçõe­s irregulare­s da milícia. De acordo com a PM, a região é controlada por grupo paramilita­r que explora a venda e o aluguel de imóveis construído­s em área ambiental. Durante a ação, um carro de passeio foi incendiado e moradores protestara­m contra as demolições.

Segundo a prefeitura, apenas construçõe­s não habitadas foram destruídas. Não foi informada a quantidade de imóveis demolidos. Segundo a SMUIH, moradores que não tiveram suas casas removidas serão convocados e cadastrado­s no programa da Secretaria Municipal de Assistênci­a Social e Direitos Humanos.

De acordo com o subcomanda­nte do 18° BPM (Jacarepagu­á), tenente-coronel Leonardo Oliveira, a necessidad­e de demolir as construçõe­s na região por causa da ocupação da milícia é antiga. “A Polícia Militar está aqui para garantir a integridad­e de todos, dos moradores e da equipe da prefeitura. Estamos aqui para assegurar que nada saia do controle”, destacou o subcomanda­nte do 18° BPM (Jacarepagu­á), afirmou.

PEDREIRO DA MILÍCIA

A Polícia Civil do Rio buscará em Pernambuco o homem apontado como o principal responsáve­l pela construção dos prédios que desabaram na Muzema, na Zona Oeste. Conhecido como Zé do Rolo, José Bezerra de Lira, 42 anos, o pedreiro da milícia, tinha mandado de prisão pelo homicídio das 24 pessoas mortas no desabament­o ocorrido em abril. De acordo com a polícia, ele estava escondido no sertão pernambuca­no para fugir dos comparsas milicianos. “Ele informou para os policiais que o prenderam que estava sendo ameaçado pela milícia, por conta do prédio que desabou e, por isso, fugiu”, disse a delegada Adriana Belém, titular da 16 ª DP ( Barra da Tijuca), responsáve­l pela investigaç­ão do desabament­o.

A delegada informou que agora pretende uma delação premiada. “Sem dúvida, ele tem muito a dizer. Fazia construçõe­s ilegais de ponta a ponta da Zona Oeste. Deve saber do envolvimen­to de agentes públicos também. Vamos tentar a transferên­cia para o Rio o mais breve possível”, afirmou Belém, que também comentou a mudança de visual do criminoso. “Estava diferente, com cabelo baixo, barba. Talvez adotou o visual para não ser encontrado”. A prisão foi realizada pela Polícia Militar de Pernambuco, após informe da Polícia Civil do Rio. Zé do Rolo estava com duas espingarda­s no momento da prisão. Outros dois acusados pela tragédia já se encontram presos.

Ontem, diferentes grupos milicianos também sofreram baixas. Na Baixada Fluminense, dois homens apontados como integrante­s de uma milícia que age em Nova Iguaçu foram presos pela Polícia Civil. Identifica­dos como João Teixeira dos Passos, conhecido como Jota, e Ednílson Jesus da Silva , o Baiano, foram encontrado­s no distrito de Lídice, no município de Rio Claro. O primeiro chefia uma milícia que atua nos bairros da Grama, Figueiras, Miguel Couto e Vila de Cava. O outro, segundo as investigaç­ões, atuava como segurança do comparsa.

UM TERÇO DAS DENÚNCIAS

Até setembro de 2019, milicianos representa­m quase um terço de todos os denunciado­s pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado ( Gaeco) do Ministério Público do Rio em 2019. A informação foi divulgada pelo portal de notícias G1. Segundo o MP, foram denunciada­s 861 pessoas e, desse total, 285 participan­tes de variados grupos paramilita­res que atuam no estado.

Em junho, O DIA havia revelado que em São Gonçalo, cidade que tem a segunda maior população do estado, grupos paramilita­res já são responsáve­is por 40% das mortes.

As milícias no Município de São Gonçalo, ao contrário do tráfico, não são rivais. Elas dividem os serviços de matadores e cobradores de taxas, de acordo com a delegada Bárbara Lomba: “Na investigaç­ão que culminou com a prisão de 24 pessoas, no ano passado, identifica­mos que os assassinos trabalhava­m para mais de um chefe. Uma espécie de consórcio de criminosos”. A prisão dos grupos de milicianos provocou a redução de 33% (menos 60 casos) no número de homicídios, nos primeiros oito meses deste ano, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Ele informou para os policiais que o prenderam que estava sendo ameaçado pela milícia, por conta do prédio que desabou e, por isso, fugiu” ADRIANA BELÉM, delegada Na investigaç­ão, identifica­mos que os assassinos trabalhava­m para mais de um chefe. Uma espécie de consórcio de criminosos” BÁRBARA LOMBA, delegada

 ??  ??
 ??  ?? Em meio à ação, morador ateou fogo a carro para impedir acesso dos agentes
Em meio à ação, morador ateou fogo a carro para impedir acesso dos agentes
 ?? REPRODUçãO ?? Zé do Rolo foi preso no sertão pernambuca­no e confessou que adotou novo visual para fugir dos comparsas milicianos
REPRODUçãO Zé do Rolo foi preso no sertão pernambuca­no e confessou que adotou novo visual para fugir dos comparsas milicianos
 ?? REPRODUçãO ??
REPRODUçãO
 ?? FOTOS REGINALDO PIMENTA ??
FOTOS REGINALDO PIMENTA
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil