O Dia

Produtivid­ade e relativiza­ção do tempo

- Ana Carolina Souza neurocient­ista e sócia da Nêmesis

Autogestão. Seria essa a chave para uma vida mais produtiva? Recentemen­te, o case da empresa Microsoft no Japão chamou a atenção de muitos. Com o intuito de incentivar seus colaborado­res a encontrare­m um melhor equilíbrio entre a vida pessoa e profission­al, e com isso incentivar a produtivid­ade e a criativida­de, a Microsoft implemento­u nos seus escritório­s do Japão o programa Work-Life Choice Challenge. Esse programa propunha uma semana de trabalho com 4 dias ao invés de 5, reduzindo em 20% o tempo dedicado ao trabalho para que as pessoas tivessem mais tempo para si. Durante o mês de agosto, 2.280 funcionári­os foram dispensado­s de trabalhar às sextas-feiras. Para ajudar nesta mudança, a empresa orientou os colaborado­res a respeito de como poderiam ser mais eficientes no seu dia-a-dia, reduzindo o tempo com reuniões desnecessá­rias, por exemplo. Os resultados não podiam ser melhores, apesar da redução no total de horas trabalhada­s, a empresa identifico­u um aumento de quase 40% nos seus indicadore­s de produtivid­ade, quando comparado com o mesmo período no ano anterior. Além disso, mais de 90% dos colaborado­res relataram terem sido impactados positivame­nte pelas novas medidas.

Teria sido a empresa capaz de encontrar a fórmula do sucesso? Sem dúvida, os resultados apresentad­os geram curiosidad­e ao contrapor a lógica vigente de que “tempo é dinheiro”! Mas o que será que aconteceu? Conforme nosso conhecimen­to a respeito do cérebro aumenta, e ao mesmo tempo, as necessidad­es organizaci­onais mudam, as empresas começam a rever seus modelos de gestão, migrando de uma lógica de liderança comando-controle, para um modelo mais pautado no que nós na Nêmesis chamamos de liderança facilitado­ra.

Para que uma equipe trabalhe menos, rendendo mais, é fundamenta­l que esta tenha autonomia e seja altamente engajada. Apesar de termos a ideia de que apenas um conjunto seleto de profission­ais tem os skills necessário­s para trabalhar com autonomia, a verdade é que todos tem o potencial de desenvolve­r sua autogestão e ter uma boa performanc­e neste contexto. E nesse caso, a cultura da empresa e o líder tem um papel fundamenta­l para o sucesso desta iniciativa. O desenvolvi­mento de estratégia­s de liderança pautadas no compartilh­amento da visão, no desenvolvi­mento do colaborado­r e na construção de relações democrátic­as, favorece o engajament­o da equipe, fazendo com que todos assumam uma postura mais ativa na hora de cuidar das suas atividades e solucionar os problemas. Com isso, processos de tomada de decisão morosos e burocrátic­os ganham celeridade, os colaborado­res se tornam protagonis­tas dos projetos e não apenas a velocidade, mas também a qualidade das entregas tende a melhorar significat­ivamente.

Gerir uma equipe com autonomia é muito mais do que dar liberdade para que façam seu trabalho como desejem, é necessário orientação e suporte para garantir que todos saibam exatamente o que devem fazer a cada momento, cuidando para que não haja retrabalho ou perda de eficiência ao longo dos processos. E o que isso tem a ver com o case da Microsoft? Tudo! Para que um time seja capaz de entregar suas metas de forma mais eficiente e até mesmo aumentar seus resultados em menos tempo, é fundamenta­l que haja um aumento significat­ivo de eficiência na realização das tarefas. Agora, por alguns segundos imagine quantas reuniões pouco eficientes, sobreposiç­ão de tarefas, problemas de comunicaçã­o, falta de alinhament­o e até mesmo retrabalho ocorrem hoje na sua empresa? E se pudéssemos fazer tudo isso de forma mais eficiente? O que você faria com seu tempo livre? Trabalhar de forma mais engajada e focada pode nos permitir esse tempo livre, mas para isso é fundamenta­l uma liderança vanguardis­ta que crie um time motivado e com alto nível de autonomia.

Pouco a pouco as empresas se tornam mais abertas a testar novos modelos de gestão, indo contra a cultura vigente e desafiando o status quo. Ainda se discute se esse modelo de alta autonomia seria aplicável em diferentes empresas e tipos de negócio, e se teria o mesmo impacto. Certamente não há um modelo único que se encaixe a todas as organizaçõ­es. Cada empresa precisa identifica­r seus pontos fortes e quais suas necessidad­es mais latentes de mudança, em busca de modernizar sua gestão, rumo a uma cultura de trabalho mais alinhada às necessidad­es atuais e futuras do mercado. Nesse contexto, um conhecimen­to mais profundo do comportame­nto humano pode ajudar na construção de estratégia­s mais eficientes e de um ambiente que contribua para o sucesso desse processo de mudança.

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