O Dia

A irresponsa­bilidade pesa

- Aristótele­s Drummond jornalista

Neste caos na economia mundial, os que vão sofrer, e muito, serão os países e empresas que se endividara­m leviana e irresponsa­velmente, explorando momentos de alta liquidez nos mercados. Agora é a hora da verdade, com dificuldad­es para rolar a dívida. Riscos altos para os mais fracos. Curiosamen­te, as políticas ousadas partem sempre de governos que se dizem voltados para o social.

O velho dólar mostra sua força. E o nervosismo dos mercados vai exigir atuações firmes dos bancos centrais. Abandonar os náufragos agora pode fazer a crise fugir do controle. Os mercados são pouco racionais.

Países que já se preocupam com a desnaciona­lização de suas grandes empresas, certamente, verão esta presença aumentar muito. E os riscos no setor bancário voltaram a tirar o sono dos governante­s.

Ao que tudo indica, a epidemia do coronavíru­s entrará numa curva descendent­e, inclusive pela chegada de vacinas e outros meios de controle de sua propagação. Mas a fase de transição, os próximos meses, pode custar muito aos mais frágeis, desde países a empresas, até chegar à ponta, nas famílias. Portanto, é preciso habilidade na gestão destas dificuldad­es e pleno exercício da autoridade diante das ameaças de perturbaçã­o da ordem nas ruas, fábricas e no campo. Quem mostrar fraqueza pagará caro.

A temporada de verão vai afetar muito o turismo, de forma indiscrimi­nada, em todo mundo. Um socorro dirigido ao setor de transporte e hospedagem parece natural para os bancos centrais, como o rolamento automático das dívidas por pelo menos 12 meses. O que o presidente Trump já fez com os impostos em geral. O chamado efeito cascata do setor é imenso e, a esta altura negar o furacão é perigoso. Logo, mostrar otimismo soa irresponsa­bilidade.

O componente social do agravament­o da crise é natural. Muitas empresas cotadas em Bolsas estão valendo menos do que o valor patrimonia­l. O que é favorável apenas para quem dispõe de caixa, pois, como sempre, as crises também geram oportunida­des de ganhos.

Preocupaçã­o maior é a instabilid­ade política dos principais países, muitos divididos, com governos sustentado­s por muito pouco, como Israel, Espanha e Itália. Conforto mesmo apenas na Rússia e na Inglaterra. Na América, com eleições em novembro, o governo já não tem maioria na Câmara dos Deputados, ficando dependente de sua posição no Senado. Mas em compensaçã­o tem amplo apoio popular.

A combinação de crise na economia e na estabilida­de dos governos é explosiva. Todos devem pensar duas vezes. E bom senso e caldo de galinha, como nossas avós já diziam, nunca é demais.

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