Estados reagem a Bolsonaro e mantêm isolamento social
Crítica do presidente às medidas restritivas adotadas por governadores é refutada até pelo vice Hamilton Mourão.
As afirmações do presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento anteontem à noite quando defendeu o fim do isolamento, chamado por ele de confinamento em massa, e a reabertura de escolas e comércio, provocou reação de políticos e até mesmo entre aliados. Principalmente governadores, que têm implementado medidas restritivas para conter a pandemia, que no Brasil já matou 59 pessoas e infectou 2.433, segundo balanço do Ministério da Saúde divulgado ontem. E, contrariando o que disse Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão, afirmou que a posição do governo é de defesa do isolamento social. “A posição do nosso governo, por enquanto, é uma só: o isolamento e o distanciamento social”, afirmou Mourão.
O vice-presidente minimizou os atritos de Bolsonaro em reunião com os governadores, que acabou sem consenso, e defendeu a união de todos os agentes públicos no combate ao novo coronavírus. No fim da tarde os gestores dos estados voltaram a se reunir. Ao final do encontro, 26 governadores divulgaram uma carta com reivindicações, entre elas apoio do governo federal aos estados e garantiram que vão continuar com as medidas restritivas.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), antes aliado do presidente, rompeu relações com Bolsonaro, a quem chamou de irresponsável e insensível ao atacar o isolamento defendido por governadores como forma de combater a disseminação do coronavírus. A atitude do presidente, de acordo com Caiado, “não faz parte da postura de um governante” e não será acatada.
“A crise existe e será tratada. No momento certo, saberemos flexibilizar as restrições. É inadmissível o presidente tratar pandemia que já matou quase 20 mil pessoas como ‘resfriadinho’. Insensibilidade que fere familiares de vítimas. Sou médico e não aceito isso”, disse.
Para o ministro do Supremo tribunal Federal, Gilmar Mendes, a pandemia exige solidariedade e co-responsabilidade. “A experiência internacional e as orientações da OMS na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez”, disse o ministro.
Frases de efeito não vão resolver o problema (da pandemia de coronavírus no país)”
RODRIGO MAIA Presidente da Câmara
A posição do nosso governo, por enquanto, é uma só: o isolamento e o distanciamento social”
HAMILTON MOURÃO Vice-presidente
É inadmissível o presidente tratar pandemia que já matou quase 20 mil pessoas como ‘resfriadinho’”
RONALDO CAIADO Governador de Goiás
O país precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da população”
DAVI ALCOLUMBRE Presidente do Senado
Não é no desafio pessoal que nós vamos construir soluções para essa grave crise”
JOÃO DORIA Governador de São Paulo
Se (Bolsonaro) não calar, estará preparando o fim. E é melhor o dele que de todo o povo. Melhor é que se emende e cale”
FERNANDO H. CARDOSO Ex-presidente