RISCO E PROTEÇÃO NA HORA DO ADEUS
Parentes fazem a prece final, enquanto coveiros esperam para sepultar vítima do coronavírus. Profissionais são exemplo de quem se expõe para manter a rotina durante a pandemia.
Acurva de mortes por contaminação do coronavírus cresce a cada dia. São 20 vítimas confirmadas na capital, oito no interior e outras 49 suspeitas em investigação. A contagem dos cemitérios, no entanto, já ultrapassa os números oficiais. A Coordenadoria de Cemitérios do município afirma que já ocorreram “21 sepultamentos ou cremações com óbitos atestando a doença”, e outros 174 sepultamentos de “casos suspeitos e devidamente atestados” nos 21 cemitérios da cidade.
Os funcionários dos cemitérios, na linha de frente do risco de contaminação, se protegem como podem. Todos os corpos que chegam com diagnóstico de alguma insuficiência respiratória, na certidão de óbito, são enterrados sob um procedimento de segurança: botas, luvas, máscara, óculos e roupa de proteção.
Assim, foi realizado o enterro de Magna Soares Almeida, de 40 anos. O caixão permaneceu o tempo todo lacrado e a despedida da família foi breve. A causa da morte na declaração de óbito veio como Covid-19. A família contesta. “Ela não tinha nenhum sintoma. O (hospital) Miguel Couto colocou coronavírus, mas acho que não foi”, afirma o viúvo, Otávio de Araújo. Ele reclamou do atendimento da UPA da Rocinha.
“Na terça-feira ela sentiu uma forte dor na coluna. Esteve na UPA da Rocinha, mas foi muito ruim o atendimento, e ela voltou para casa. Mas se batia na cama, dizendo que ia morrer. Ia e voltava da UPA e não era internada. Foi levada para o Miguel Couto, no sábado, e foi operada. Disseram que ela estava com bactéria no fígado, pus no abdômen e água no pulmão, que não são sintomas de coronavírus. Ela não resistiu”. Otávio disse que a esposa chegou a fazer teste para o coronavírus, mas o resultado ainda não saiu. A morte é mais uma suspeita na Rocinha, maior e mais populosa favela do Rio de Janeiro: na terça-feira, a idosa Maria Luiza Santana, 70, morreu na UPA com suspeitas da doença.
A gente toma precaução quando tem sepultamento de via respiratória, seja pneumonia ou Covid-19”
ALAN RAMIRO, gerente da Rio Pax