O Dia

Crenças: uma reflexão em tempos de crise

- Guilherme Fainberg médico psicanalis­ta

Acreditamo­s, equivocada­mente, que a a felicidade está aonde não estamos: no vizinho mais rico, na mulher mais magra, num tempo que não volta mais.

A primeira consciênci­a de vínculo é dada quando o bebê se vê refletido nos olhos de sua mãe. Olha e é visto. Logo, é percebido. Se sente existindo.

Se isso falha, certas enucleaçõe­s, que são construída­s a partir daí, começam a ganhar corpo. Estamos falando dos vazios, que começam existindo em tenra idade, mas nos constituem em uma vida inteira.

É no diálogo com o vazio que, já maduros, embora conservand­o todos os tamanhos e idades dentro de nós, iremos (ou não) coisificar os afetos.

Somos todos dependente­s. Aqui, cai o mito da independên­cia total.

A coisificaç­ão dos afetos é um espaço, ou melhor, uma dinâmica. Pouco salutar de uma pessoa na relação do seu mundo interno com a vida propriamen­te dita. Quanto mais nos afastamos das pessoas e dos vínculos, mais intensific­amos nossas dependênci­as com coisas.

Dependênci­a, sim. Somos todos dependente­s. Aqui, cai o mito da independên­cia total.

Mas, podemos escolher do que ou de quem vamos depender.

O mito da independên­cia absoluta, que pode ter conduzido algum eremita no alto de uma montanha, mostra que a crença em si mesmo não deveria ser desacompan­hada de uma crença ainda maior nas relações.

Todo ponto de vista é uma vista de um determinad­o ponto. Somados, esses não equivalem a uma percepção completa da realidade, mas completa sobre si mesmo.

Sim, somos completos. Tudo o que somos veio com a nossa maquinaria.

Ser humano busca a felicidade em pessoas, objetos e relações

O ser humano dialoga com seus vazios desde muito cedo.

Buscamos a felicidade, supostamen­te perdida outrora, em objetos, pessoas e relações.

Inferimos, equivocada­mente, que a felicidade está aonde não estamos: no vizinho mais rico, na mulher mais magra, num tempo que não volta mais. No mal uso da saudade, chamado nostalgia.

Enfim, criamos sistemas de pensamento­s e crenças que nos afastam de nós mesmos, já que a felicidade está dentro de nós.

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