Trabalho e gestão pelo medo na pandemia
Uma nova cena invade o trabalho. Algumas empresas estão levando seus empregados à beira da loucura através da implantação do medo e psicoterror.
A implantação do medo para incrementar resultados decorre de uma ideologia desvirtuada. De uma cultura rasa e piegas dentro das empresas que enxergam seus funcionários a partir de uma visão assimétrica, como se fossem mercadorias, portanto, “coisificadamente”.
Essa forma de gerir faz exigências produtivas através de intensa pressão psíquica para movimentar o trabalhador em direção aos resultados. A técnica é dominar através do medo para forçar o empregado a ir além de seus limites mentais.
O método de gerir pelo medo engloba uma série de “perversões estratégicas”, como humilhação, diminuição, desarticulação, influência e persuasão. Essa ferramenta de gestão repousa na arrogância, no cinismo e em ameaças como dispensa, transferências, boicotes, adoção de políticas de represália, avaliações para punir e submeter publicamente os empregados que obtiveram os piores resultados, entre outras. Colocam-se as pessoas umas contra as outras, provoca-se vergonha a troco de obediência.
Não há preocupação com a interferência desse fenômeno na qualidade de vida do trabalhador. Pelo contrário, o objetivo é imediatista e sem projeção de futuro.
O ímpeto de sua implantação é sempre baseado no aumento do lucro e na perversidade. Não há como ignorar Foucault quando afirma que todo poder busca colocar sua marca no corpo ou que o corpo é receptáculo privilegiado da vontade de poder.
Se antes o corpo se rendia à chibata, hoje a alienação do trabalho se faz de forma mais sofisticada; pela aniquilação do psiquismo. O chicote se aplica ao cérebro.
O ataque a um clima organizacional harmônico, integrativo e as perversões deste regimento a longo prazo provocam doença, porque o medo não dialoga com a liberdade e autonomia.
Ele engessa. Encapa a ação. E está relacionado a uma experiência similar à perda da identidade, tanto é que um de seus sintomas é o estranhismo.
Triste é ver que nem mesmo a pandemia reduziu a intensidade desse fenômeno. Muitas empresas aumentaram as metas, na contramão da relação de trabalho sustentável e dos sentimentos de humanidade.
Por fim, decisões gerenciais que tenham por objetivo o lucro sem qualquer tipo de mediação com a saúde mental, são maneiras irresponsáveis de gerir um problema. O judiciário, quando acionado, dará duras respostas; não crivará tais métodos. A dignidade do trabalho é pilar do Estado Democrático de Direito e as decisões judiciais são no sentido de garantir ao trabalhador respeito à sua honra e liberdade.
A humanidade caminha sabe-se lá para onde, e estamos todos agudizados pela covid-19. Não é hora para aumentar o terror e as metas. Não há espaços para mais ameaças. É isso que a sociedade tem que concluir. A luta democrática representa a luta pela criação e preservação de direitos, não o contrário.