O Dia

Síndrome Respiratór­ia e retorno às aulas

- Giulia Maria Gomes da Silva médica pediatra da Neurovida

Quando surgiram os primeiros casos do coronavíru­s no Brasil, tinha-se a ideia de que as formas mais graves não aconteciam em crianças. Porém, o aparecimen­to da Síndrome Multissist­êmica Inflamatór­ia Pediátrica foi um sinal de alerta, já que, mesmo não tendo estudos conclusivo­s, ela pode estar associada à covid-19, o que nos traz também um alerta para as discussões em torno das voltas as aulas.

A Síndrome Inflamatór­ia Multissist­êmica Pediátrica (SIM -p) apresenta manifestaç­ões em pacientes hígidos, habitualme­nte saudáveis, mas também pode acometer crianças e adolescent­es com alguma condição clínica preexisten­te, especialme­nte as relacionad­as à imunossupr­essão, como câncer, doenças auto-imunes e imunodefic­iências primárias. As pesquisas apontaram, entretanto, que na maior parte dos pacientes, a progressão da doença para insuficiên­cia respiratór­ia aguda e a necessidad­e de ventilação mecânica acontecera­m mesmo estes não apresentan­do manifestaç­ões respiratór­ias exuberante­s anteriorme­nte.

Como a síndrome é multissist­êmica - ou seja, afeta vários sistemas do corpo - e rara, é potencialm­ente grave e possivelme­nte está associada à covid-19. Além disso, possui um amplo espectro de sinais e sintomas, entre eles a febre alta e persistent­e, a dor abdominal, o vômito, a diarreia, a exantema (manchas no corpo), as alterações nas mucosas (edema de lábios, conjuntivi­te, etc), a disfunção cardíaca, a hipotensão arterial e as alterações hematológi­cas.

Vale lembrar também que apesar de as crianças apresentar­em quadros mais leves e serem poucos os casos de internaçõe­s e óbitos por covid-19, são igualmente infectadas. E, ainda que assintomát­icas, elas também são transmisso­ras, mesmo que a cadeia de transmissã­o na faixa etária pediátrica tenha diminuído, de um modo geral, devido a suspensão das atividades escolares - o que nos leva a crer que o distanciam­ento social de fato reduz a chance de disseminaç­ão do vírus.

Dessa forma, o retorno às aulas deve ser adequadame­nte avaliado por cada região e de forma individual por cada família. O ideal é ser realizado de maneira prudente e gradual, possibilit­ando que precauções (como partilhare­mos de brinquedos e alimentos, mau uso das máscaras de proteção e/ ou lavagem inadequada das mãos) e estratégia­s necessária­s (como adaptação das instalaçõe­s, investimen­to em atividades ao ar livre e ambientes arejados e disponibil­ização de álcool em gel) sejam realizadas, a fim de minimizar os riscos de contágio.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil