O Dia

COM LEANDRO VIEIRA, IMPÉRIO SERRANO FALA SOBRE A LUTA NEGRA NO PERÍODO PÓS-ABOLIÇÃO.

Em live, carnavales­co Leandro Vieira fala de Besouro Mangangá, que liderou a luta negra no período pós-abolição: sua próxima mensagem na Avenida

- LUANA DANDARA luana.dandara@odia.com.br

Em uma fase de renovação e reestrutur­ação, após um desastroso desfile em fevereiro, o Império Serrano lança hoje, em uma live às 15h, o enredo para o próximo Carnaval, ainda sem data definida. Com assinatura do premiado Leandro Vieira, atual campeão da Série A com a Imperatriz Leopoldine­nse e também carnavales­co da Mangueira, a agremiação de Madureira volta para suas tradições e apresenta um enredo ligado à negritude. ‘Mangangá’ vai levar para a Sapucaí a história de Manuel Henrique Pereira, apelidado de Besouro Mangangá.

O personagem, envolto por um grande misticismo, foi um misto de herói e fora da lei, como define Leandro. Besouro liderou a luta negra no período pós-abolição, no Recôncavo da Bahia, quando a sociedade ainda persistia nos maus-tratos aos negros e a não pagar por serviços realizados por eles. “É uma figura popular que se coloca como um valente em defesa do seu povo. Sobre a vida dele existe uma série de mitos e lendas, principalm­ente que ele teria o corpo fechado e que, quando corria grande perigo, se transforma­va em um besouro e saía voando. Ele ainda é muito presente na história oral e musical do Recôncavo”, explica o carnavales­co.

Segundo Leandro, o capoeirist­a baiano apareceu em suas pesquisas em 2015, quando ele estudava o enredo vencedor de Maria Bethânia para a Verde e Rosa.

“Resolvi guardar esse personagem, e chegou a hora de lançar luz sobre esse nome. Descobri que Besouro era filho de Ogum, um orixá que o Império tem intimidade, porque São Jorge é o padroeiro da escola. E ele tem toda essa ideia de luta, de resistênci­a. O Besouro também dialoga muito com esses Carnavais que eu gosto de realizar, que apresentam nomes e histórias desconheci­das para o público e valorizam a resistênci­a negra no Brasil. As coisas foram casando”, destaca.

O carnavales­co, dono de três campeonato­s, conta ainda que fazer um desfile para o Império Serrano era um desejo antigo. “Tenho ligação com essas escolas tradiciona­líssimas. E quando sonhava em fazer um dia o Império, pensava em uma história preta. Isso sempre foi muito vivo na escola. Quando

o Império deixou de fazer dos seus Carnavais a vitrine do seu orgulho preto, ele foi perdendo um pouco a sua identidade. Ao apresentar um enredo que dialoga na intimidade das tradições e das matrizes do Império Serrano, isso tem um poder de transforma­ção que pode ser grande”, pontua ele.

“2021 vai ser o Império com o veneno do Besouro. Uma poção mágica pra adicionar no sangue imperiano e decolar”.

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LUCIANO BELFORD
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ESTEFAN RADOVICZ No alto, Leandro Vieira posa com os bambas imperianos para se inspirar nas glórias de outros tempos. Acima, desfile do Império Serrano em 2020

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