Passeio à Ilha de Paquetá vira pesadelo: falta de orientação, desencontro de horários e aglomeração
Cadê as barcas e o distanciamento?
Ofinal de semana — de muita diversão para os visitantes (no início) — foi também de muita dor de cabeça para os moradores de Paquetá. O motivo é o Decreto 47.129 de 19 de junho de 2020, que dispõe sobre as medidas de enfrentamento da propagação da covid-19, e que entre outras ações, determina que as barcas naveguem com a lotação máxima correspondente ao número de assentos. O problema, segundo aqueles que utilizam o modal, é que as viagens estão cada vez mais lotadas. Eles temem ser contaminados pelo coronavírus durante o trajeto.
O domingo de sol levou muitos turistas à ilha e, logo na primeira travessia, marcada para 10h, mas que acabou antecipada para 9h42, precisamente 888 passageiros seguiram a bordo da ‘Neves’, embarcação que tem capacidade para 1,3 mil passageiros, sendo 900 sentados e 400 em pé. Segundo relatos recebidos por O DIA, muitos dos presentes não utilizavam máscaras, o que gerou bastante preocupação entre os moradores que também faziam a viagem.
“Essa abertura não se justifica. Não houve um planejamento para manter o distanciamento dentro das barcas. O que aconteceu ontem, com a vinda dos visitantes, é o reflexo do que tem acontecido nos dias de semana na hora do rush. A diferença é
Decreto atual permite que a operação da linha Paquetá tenha intervalos de até três horas
que o descaso aí é com a saúde dos trabalhadores. Muito por conta deste decreto”, desabafa Guto Pires, membro do Conselho Comunitário de Segurança de Paquetá.
Na volta para casa, os visitantes também enfrentaram problemas. A barca de 18h30 saiu com capacidade máxima, como prevê o decreto, porém, não foi suficiente para transportar todos os passageiros.
“Tem que melhorar. O intervalo está muito grande, uma quantidade de pessoas enorme. Cheguei às 18h e já não havia lugares. Fui informada que só teria como embarcar às 23h30. Ficamos aqui, no meio da aglomeração”, reclamou a moradora de Bangu, Renata Barreto.
A demora é fruto de outro decreto, o 46.983 de 20 de março, que também trata da ampliação das medidas de enfrentamento à pandemia, sendo este, por meio de restrições no sistema de transporte público. A publicação permite que a operação da linha de Paquetá seja realizada com intervalos de até três horas e dá às concessionárias o direito de revisar e alterar os respectivos modelos operacionais, incluindo grade horária de oferta, horário de funcionamento do sistema e abertura e fechamento de acessos e estações.
“Trabalho amanhã, tenho que voltar hoje de qualquer jeito. Pegando a última barca, vou chegar em casa por volta das 4h da madrugada. Precisa ter mais barcas”, desabafa Luciana Sabino Gomes, de 43 anos, moradora de Padre Miguel.