O Dia

ELES DANÇAM E FAZEM BONITO PELA ARTE

Sem se abalar com preconceit­o, meninos mostram que o balé, além de lindo, exige força, dedicação, disciplina e coragem. Eles fazem aulas em um stúdio de Itaguaí

- JUPY JUNIOR jupy.junior@odia.com.br

Opequeno Arthur, de apenas 9 anos, se diverte sozinho enquanto a aula não começa: gira o corpo no próprio eixo, levanta a perna direita até que o pé toque a orelha, pula para a esquerda com as pernas juntas, depois, para a direita. Há um vigor e uma impaciênci­a nos seus olhos infantis. Do lado de fora de uma casa simples cheia de alunos, no centro de Itaguaí, no meio da tarde de um dia em novembro, brinca uma criança com seu sonho: ser bailarino profission­al. Arthur Gavino tem a sorte de encontrar nos pais – Marcelo Castro e Michele – seus maiores incentivad­ores. A família mora em Vila Margarida e vê na dança uma atividade importante, mas a homofobia que persegue tanta gente, e, em especial, bailarinos, é um assunto infelizmen­te inevitável.

Nada disso é importante, como enfatiza Jailson Trevysani, uma referência da dança em Itaguaí há muitos anos. “Sempre vai existir homofobia, mas a arte é superior a tudo isso”, ensina ele. Graças ao seu empenho, sete meninos estudam balé na cidade (talvez existam outros), e um já é professor. É bastante difícil, muito por causa do preconceit­o imbecil, que meninos se dediquem à beleza, técnica e disciplina do balé. Nada existe no balé executado por homens capaz de sustentar a ideia de que a dança clássica é coisa de “maricas”: é bastante difícil conciliar com precisão força muscular, flexibilid­ade e excelente condiciona­mento físico. Tais habilidade­s são mais facilmente obtidas por homens.

No balé, homens e mulheres têm rotinas, movimentos e exercícios totalmente diferentes. O homem, por exemplo, não dança na ponta dos pés, e cabe a eles levantar a bailarina muitas vezes acima da cabeça. Certos passos, pela complexida­de e força envolvidas, só podem ser executados com perfeição pelos homens. Portanto, a competênci­a do bailarino nada a tem a ver com sua sexualidad­e, que pode, felizmente – assim como em qualquer atividade ou profissão —, ser qualquer uma.

Meninos bailarinos se preparam para uma grande apresentaç­ão no mês que vem

O fascínio de Arthur pelo balé começou há três anos, quando ele tinha apenas 6. Por sempre acompanhar a irmã às aulas na Escola Municipal de Dança (sob a direção de Trevysani), o menino passou a se interessar a ponto da mãe perguntar “quer dançar também, Arthur?”. Foi o começo de uma saudável obsessão. O pai, Marcelo, diz que é preciso pedir para o filho parar de fazer exercícios, porque é assim que Arthur brinca em casa: fazendo extensões e movimentos do balé. Marcelo não se incomoda nem um pouco com a dedicação do filho à dança: acha a arte um valor inquestion­ável. “O avô materno dele era professor de dança de salão”, conta, orgulhoso. A mãe diz que o irmão mais velho de Arthur, Lucas, no começo ficava zoando, mas é um dos maiores apoiadores hoje em dia.

Arthur já se apresentou diversas vezes. Começou com um número de Saltimbanc­os Trapalhões, com música de Chico Buarque. Arthur era um dos felinos dançarinos.

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FOTOS STUDIO DE DANÇA JAILSON TREVYSANI / DIVULGAÇÃO À esquerda, de pé, Philipe Matheus (O professor); ao lado dele, Natã; à direita, em pé, Gian Carlo; ajoelhado, Rian Gonçalves; e, sentado em spacatto, Arthur Gavino
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Matheus, o professor: com apenas 24 anos, já é multiplica­dor da arte

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