Vereador mais votado defende uma nova agenda política
Com mais de 86 mil votos, Tarcísio Motta (PSOL) foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro nas eleições do dia 15 de novembro e assumirá seu segundo mandato na Câmara Municipal a partir de 1º de janeiro do próximo ano. Seu partido foi um dos três que conquistaram sete cadeiras - além do DEM e do Republicanos. Em 2021, entre as prioridades da Câmara, para Tarcísio Motta, estão o retorno das aulas presenciais nas escolas públicas no pós-pandemia, a aprovação do Plano Municipal de Cultura e a revisão do Plano Diretor do Rio de Janeiro. “Vamos ter que fazer um debate amplo sobre as políticas de organização da cidade e urbanismo para, inclusive, diminuir o poder econômico das milícias que controlam determinados territórios”, explicou. Nesta entrevista concedida à coluna, o vereador falou ainda sobre o que fazer para evitar que o caixa financeiro da Prefeitura quebre de vez. A resposta passa por geração de emprego, melhor eficiência do gasto público e impostos mais justos. “é preciso seguir três linhas de ação de forma simultânea”.
A que o senhor atribui a sua expressiva votação?
Foi uma grata surpresa e um grande reconhecimento do nosso primeiro mandato. Apresentamos muitas propostas, enfrentamos poderosos, que dominam a cidade de várias formas, e estivemos presentes em todos os debates da Câmara. Fizemos investigações detalhadas na CPI dos Ônibus e na CPI das Enchentes que identificaram irregularidades e descasos das prefeituras.
Qual deve ser a agenda prioritária do Rio de Janeiro nos próximos 4 anos?
O primeiro desafio será o retorno das aulas presenciais no pós-pandemia. Além disso, a pandemia não acabou, a Câmara precisará trabalhar para organizar o sistema de saúde para enfrentar essa segunda onda. A revisão do Plano Diretor da cidade é outra prioridade que deve ser discutida ainda no início do ano. É uma das principais legislações do município, define como e para onde a cidade deve crescer. Outro desafio será a aprovação do Plano Municipal de Cultura. Equivocadamente, esse setor costuma ser desprezado, mas é principalmente em períodos em que precisamos de recuperação econômica e fortalecimento de ações para a construção de uma sociedade melhor que a cultura é essencial.
Cientistas políticos andam dizendo que o Rio é de direita. A capital é conservadora?
O Rio é o berço do bolsonarismo, mas isso não a torna automaticamente uma cidade conservadora. A cidade levou o PSOL ao segundo turno em 2016 e tem eleito bancadas expressivas de parlamentares, prova de que os eleitores cariocas têm reconhecido o projeto da esquerda. O Rio também é berço de expressões culturais que sempre resistiram e enfrentaram a opressão. E é essa coragem e liberdade de expressão dos cariocas que faz a cidade ser respeitada e reconhecida no mundo todo. O bolsonarismo só envergonha a Rio.
O Plano Diretor será discutido na Câmara de Vereadores?
Trabalharemos para isso. É um assunto que a própria sociedade tem dificuldade de acompanhar, mas é decisivo, essencial. Precisa entrar em revisão o mais rápido possível, já estamos atrasados, mas é prioridade em 2021. Vamos ter que fazer um debate amplo sobre políticas de organização da cidade e urbanismo para, inclusive, diminuir o poder econômico das milícias. Além disso, temas como meio ambiente e mobilidade urbana são imprescindíveis no plano diretor.
O que levou o eleitor a entender que Paes e Crivella são as melhores opções?
Foi uma eleição peculiar, sem debates na televisão, que impediu que os eleitores conhecessem melhor os candidatos mais novos. Nesse contexto de pandemia, os mais conhecidos tiveram vantagem. Além disso, o prefeito tem o benefício, pelo seu cargo, de aparecer mais na mídia. Ainda assim, mesmo com o apoio do presidente da Repúbliber ca, teve uma votação muito menor do que se esperaria de um prefeito. Sua rejeição é tão grande que as pessoas estão sendo iludidas pela candidatura de Eduardo Paes.
Como o novo prefeito deve conduzir a crise das finanças do Rio?
É preciso seguir três linhas de ação de forma simultânea: induzir e incentivar atividades que gerem emprego e movimentem a economia de forma social e ambientalmente responsável; melhorar a eficiência do gasto público, com mais transparência, mais obras que movimentem a economia e garantam direitos e menos obras de maquiagem, eleitoreiras; e tornar os impostos da cidade mais justos, cobrando mais de quem tem mais e menos de quem tem menos.
Quais são as necessidades mais urgentes da Educação?
Estamos vendo agora um retorno irresponsável das aulas presenciais, as escolas não foram preparadas para receber os estudantes, e isso está ameaçando a vida de profissionais da educação, de familiares dos alunos e dos próprios alunos. É uma situação que não vai se resolver no final desse caótico governo do Crivella. Isso significa que é essencial ter um plano emergencial para adequar os prédios das escolas para que possam rece
os estudantes no ano que vem.
A atual administração conduziu bem o enfrentamento da pandemia?
Foi e ainda está sendo um desastre. Em maio, quando a pandemia estava crescendo a todo vapor, Crivella já quis esconder casos de contaminação. A precoce flexibilização do isolamento social foi de uma irresponsabilidade absurda. Neste mês, ele chegou a afirmar que a covid-19 havia matado menos que o esperado, como se a pandemia já tivesse acabado.
O senhor é um expoente da esquerda, como derrotar o bolsonarismo e a extrema-direita conservadora?
A gente vai virar o jogo contra o bolsonarismo. Nesse primeiro tempo, fizemos apenas o primeiro gol para iniciar uma virada que será concluída em 2022. Estamos diante de uma responsabilidade enorme: a construção da unidade de esquerda em torno de um projeto para o estado e para o país em torno de propostas, e não de nomes. Isso se faz dialogando com a população, acolhendo experiências de movimentos sociais, da luta de classes e dos trabalhadores. Se não começarmos a pensar agora a construir a unidade necessária para 2022, podemos chegar às próximas eleições fragmentados.
A revisão do Plano Diretor da cidade é uma prioridade que deve ser discutida ainda no início do ano”
O Rio é o berço do bolsonarismo, mas isso não a torna automaticamente uma cidade conservadora”
É desafio o retorno das aulas. A Câmara precisa organizar o sistema de saúde para enfrentar a segunda onda.”