A razão do desespero de Crivella
As reações raivosas de Crivella na campanha eleitoral se acentuaram no segundo turno. No último debate, na TV Globo, o que se viu foram esgares de ódio que tentavam esconder um desespero de quem não podia, ou melhor, devia perder a eleição de maneira alguma. E por que todas essas reações desesperadas, com incontáveis e repetidas ofensas ao principal adversário? Por que tamanho ódio destilado na TV, no rádio e na distribuição de panfletos com acusações falsas nas portas das igrejas? Por que essa reação desmedida, quase insana, que qualquer estudante de psicologia poderia identificar no comportamento corporal de Crivella nos debates?
Olhos rútilos, mãos levemente trêmulas, deboche programado, entonação forçada nos finais de frases, banalizando enfatizações, mostraram candidato absolutamente fora de si, apavorado com a derrota iminente, inexorável.
Não era, contudo, um candidato em pânico que destilava um ódio quase intangível, desnudando seu preconceito contra os segmentos religiosos e ideológicos da nossa sociedade. O que vimos era um prefeito que sabia que não podia perder em hipótese alguma, sob o risco de serem descobertas as irregularidades de sua desastrosa gestão.
Durante quatro anos, o governo Crivella governou – literalmente – para seu grupo religioso. E não se conteve nos episódios emblemáticos como a instalação de um tomógrafo num templo de sua Igreja na Rocinha, ou no famoso “Fala com a Márcia” que visava privilegiar seus fieis seguidores. O buraco é mais embaixo. Um ligeiro levantamento de quem entende de administração pública, revela que foram centenas os contratos assinados sem licitação durante o governo Crivella. Funcionários municipais que conhecem bem a máquina, acham que passou de mil o número de cartas-convite e contratos emergenciais em todas as áreas, contemplando principalmente as áreas da Saúde e de obras e conservação.
E aí é que reside a razão maior do desespero crivellista: quem indicou esses fornecedores beneficiados por esse carnaval de contratações sem licitação? Por que se priorizou tanto essa forma de escolha na prefeitura? Como, da noite para o dia, cidadãos sem qualquer experiência se tornaram aptos para fornecer para a segunda maior cidade do país?
Escarafunchando-se o histórico de cada um, descobre-se que todos os princípios básicos de administração pública foram para o esgoto. O que valeu foram indicações de corriola que dificilmente escapará de ampla investigação capitaneada pelo Ministério Público. Acredita-se que será necessária força-tarefa do MP, tamanhas as irregularidades já detectadas, que extrapolam a pura e simples irresponsabilidade, resvalando para escândalo de proporções gigantescas, que alcançará os verdadeiros donos – por trás de Crivella – da atual prefeitura.
Crivella falhou em tudo como prefeito. Só não falhou como marionete do grupo a que pertence e que, desde o início, o comandava. O desespero era perder e tudo ser descoberto. E quando começarem as delações dos fornecedores, revelando condições para ganharem contratos emergenciais, destino desse governo que se encerra não será apenas o esgoto da história do Rio.
Será o esgoto de uma cela de Bangu 8.