O Dia

115 anos de Ismael Silva

- Luís Pimentel jornalista e escritor

Ele teria sido mais um a comemorar aniversári­o em setembro (mês em que nasceram também, entre outros bambas da MPB, Aldir Blanc, Zezé Gonzaga, Ederaldo Gentil, Vicente Celestino, Leci Brandão, Nelson Rufino, César Camargo Mariano, Zequinha de Abreu, Gonzaguinh­a, Gal Costas e Tim Maia).

Nasceu no dia 14, em 1905, do outro lado da Baía de Guanabara, em Niterói. Mas é filho legítimo do Estácio de Sá, bairro do Rio de Janeiro que hospedou grandes sambistas e onde nasceu, em 1928, a primeira escola de samba, a Deixa Falar. O Estácio, aonde Ismael Silva chegou aos três anos de idade, já era reduto da malandrage­m, da cultura negra e do samba. Estava pertinho da Praça Onze; portanto, perto de Tia Ciata, de Donga, de João da Baiana, de Sinhô e de tantos bambas e bambambãs.

Ainda na adolescênc­ia Ismael começou a participar das famosas rodas e fez amizade com nomes importante­s no bairro e mais tarde na MPB, como Bide (Alcebíades Barcelos), Marçal, Nilton Bastos (mais tarde seu parceiro), Gradim (Lauro dos Santos), Oswaldo Vasques, Baiaco e Rubem Barcelos (irmão de Bide). Esses eram os príncipes do samba que reinavam no Estácio, assim como Noel Rosa (parceiro de Ismael em sete músicas, incluindo aí pelo menos três momentos marcantes: “Para me livrar do mal”, “A razão dá-se a quem tem” e “Adeus”) era o grande nome de Vila Isabel; a dupla Cartola e Carlos Cachaça começava a elevar o nome da Mangueira; Paulo da Portela comandava a folia em Oswaldo Cruz e Madureira; e Mano Décio da Viola pilotava a inspiração na Serrinha, de onde despontou a escola de samba Império Serrano.

É de 1925 a primeira música composta por Ismael Silva, “Faz carinho”, gravada por Orlando Tomás Coelho, um pianista que era conhecido como Cebola. A melodia era simples e a letra despretens­iosa, mas serviu para aproximar Ismael daquele que veio a ser mais tarde um grande “parceiro” (as aspas são por conque ta da má fama de compositor), Francisco Alves. Chico Viola não só regravou a música como garantiu a Ismael que gravaria toda a sua produção dali para frente, desde que, claro, entrasse como parceiro. Como gravar não era fácil e Francisco Alves era tremendo vendedor de discos, Ismael Silva aceitou na hora a proposta, exigindo apenas que entrasse nos créditos o nome de seu parceiro de verdade, Nilton Bastos (bom letrista, de carreira curta, morreu em 1931, com 32 anos).

Compositor de estilo genuinamen­te carioca, desde que morreu, em 1978, o nome de Ismael Silva tem tido períodos de ressurgime­nto (com regravaçõe­s de suas músicas) e de esquecimen­to. Em seus últimos anos, viveu que nem “o Nestor” do seu samba, “em grandes dificuldad­es”. Ao completar 70 anos, em 1975, participou de um belo show comemorati­vo, no Teatro João Caetano, que teve casa cheia e deixou o compositor muito emocionado, ao ver o teatro lotado cantando seus grandes sucessos.

Sempre bom lembrar Ismael. Parodiando um verso seu, no belíssimo samba “Antonico”, fazer por ele como se fosse por nós.

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