O Dia

Sem dinheiro para enterro

Primo do adolescent­e nega que ele fosse ‘cobrador’ da milícia e acusa a polícia de não prestar socorro

- BEATRIZ PEREZ beatriz.silva@odia.com.br

Oprimo de Ray Pinto Faria, morto durante operação no Morro do Fubá na segunda-feira, acusou policiais militares de terem abordado e matado o adolescent­e de 14 anos. A família chegou no fim da manhã no Instituto Médico Legal (IML) para reconhecer o corpo. Lucas Isaías da Silva negou a versão de que o primo seria ‘cobrador de impostos’ da milícia, disse que o adolescent­e havia cursado o 4º ano do Ensino Fundamenta­l na rede municipal do Rio e acusou policiais de terem abordado e levado a vítima pela comunidade.

“Às 6h da manhã (de segunda-feira), me disseram que teriam abordado o Ray na porta de casa e saído à pé com ele na comunidade. Saí de casa, falei com a minha prima e ela já estava à procura do Ray. Os policiais disseram que não tinham pego nenhuma criança. Andamos de ponta a ponta da comunidade e não conseguimo­s achá-lo. Nós encontramo­s o Ray com dois tiros, no Salgado Filho, com outros dois mortos. Ele chegou no hospital como bandido. Foi pego por policiais na porta de casa”, afirmou Lucas.

Agora, a família cobra Justiça. “Ray não era cobrador de imposto. Não era miliciano. Era mais um morador que a Polícia Militar matou”, disse o primo. Queremos Justiça porque Ray era uma criança com uma vida toda pela frente. Hoje foi com a minha família, amanhã pode ser com outras”, declarou. O adolescent­e estudava em Madureira e sua mãe havia acabado de buscar o kit escolar, segundo o parente.

De acordo com o primo, os policiais levaram o equipament­o de câmera de segurança de uma padaria da comunidade que poderia ajudar a esclarecer o caso.

A família diz que Ray Pinto Faria não recebeu assistênci­a

ONG Rio de Paz vai arcar com os custos do sepultamen­to do menino, ainda não foi marcado

adequada após ser baleado. Os familiares também negam que a morte tenha sido provocada por troca de tiros com bandidos. A Delegacia de Homicídios investiga o caso e realiza a perícia de local.

A Polícia Militar ainda não retornou sobre as denúncias e, na segunda-feira, confirmou que o 1º Comando de Policiamen­to de Área (CPA) e o Comando de Operações Especiais (COE) atuaram na Zona Norte da cidade do Rio. Segundo a PM, a operação tinha por objetivo “coibir movimentaç­ões de grupos criminosos na região”.

Segundo a nota da PM, houve confronto entre PMs e criminosos armados nas comunidade­s do Urubu e do Fubá. Na comunidade do Urubu, foram localizado­s dois feridos; no Fubá, houve um ferido. As três pessoas foram encaminhad­as ao Hospital Municipal Salgado Filho e morreram.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que Ray Pinto Faria chegou morto e sem identifica­ção à unidade hospitalar. A família já reconheceu o corpo do rapaz.

Sem recursos para o sepultamen­to do adolescent­e Ray Pinto Faria, a família pediu ajuda à ONG Rio de Paz, que vai arcar com os custos. A data do enterro ainda não foi marcada. O presidente da organizaçã­o, Antonio Carlos Costa, cobrou mudanças e fez um apelo para que a sociedade pare de celebrar a guerra e que as polícias priorizem a preservaçã­o da vida dos moradores de comunidade­s.

“Entre 2007 e 2021, 81 crianças foram mortas por bala perdida, ou, permita-me dizer, bala achada, no Estado do Rio de Janeiro. Sempre que um menino ou uma menina morrem de forma tão banal e hedionda, pensamos que tudo vai mudar, mas nada muda. O motivo deve-se ao fato de que esses pequeninos moram em comunidade­s cujos moradores são considerad­os pelo Poder Público e grande parte da sociedade, matáveis”, afirma Antonio Carlos.

 ?? ESTEFAN RADOVICZ ?? Lucas: ‘Ele (Ray) chegou no hospital (Salgado Filho) como bandido. Foi pego por policiais na porta de casa’
ESTEFAN RADOVICZ Lucas: ‘Ele (Ray) chegou no hospital (Salgado Filho) como bandido. Foi pego por policiais na porta de casa’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil