O Dia

A quem serve o fim da estabilida­de?

Duda Quiroga diretora do Sepe e do Sinpro e vicepres da CUT-RJ

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Aestabilid­ade para concursado­s não é privilégio muito menos diminui a produtivid­ade. Ela garante segurança às ações de servidores que, eventualme­nte, desagradam políticos de ocasião. Os cargos ocupados por servidores são considerad­os de Estado, e não de governo. Servem à população e não aos eleitos da última geração. Daí a pergunta: a quem serve o fim deste mecanismo?

A resposta está no dia a dia. Imaginem se os pesquisado­res da Fiocruz, uma autarquia federal, não fossem servidores com estabilida­de. Com o presidente Bolsonaro negando a Ciência, não teriam desenvolvi­do estudos na pandemia do coronavíru­s que ajudaram a encontrar vacina fundamenta­l contra a covid-19. Tiveram segurança de que não podiam ser demitidos pelo chefe do Estado, que deixou claro discordar da Ciência, chamando a pandemia de gripezinha.

Um fiscal do Ibama que, no governo anti-meio ambiente, ousasse multar autoridade­s infratoras seria demitido se não tivesse estabilida­de. Um auditor fiscal não poderia seguir a lei e negar acesso a dados de adversário­s políticos dos governante­s atuais se não tivesse a garantia do emprego. A Constituiç­ão pressupõe um Estado que oferece serviços básicos à população, sejam eles de Saúde, Educação, saneamento, Previdênci­a/ Seguridade Social e fiscalizaç­ão entre outros. Um servidor ser de carreira, concursado, além de garantias na seleção de profission­ais com formação específica, contribui para diminuir a incidência de indicações políticas.

Imagine se a cada troca de governo fosse possível mudar os servidores, a rotativida­de impediria o desenvolvi­mento de um trabalho a longo prazo para beneficiar a maioria da população brasileira. Some-se a isso o custo adicional de treinar novos profission­ais a todo instante e o tempo perdido a cada reformulaç­ão. Se até aqui você não está convencido de que o fim da estabilida­de para servidores públicos afetará diretament­e a sua vida, mesmo que você seja do setor privado, vamos refletir.

Esta medida faz parte da Reforma Administra­tiva, nova proposta do governo. Sempre com a promessa de “fazer o país voltar a crescer”, ela vem na sequência da Reforma Trabalhist­a, do teto de gastos e da Reforma da Previdênci­a. Tanto Temer quanto Bolsonaro diziam que as reformas já aprovadas seriam melhores para o Brasil, que geAlém raria empregos e aqueceria a Economia. O que temos é a Economia em recessão, aumento da miséria e da fome e mais de 14 milhões de desemprega­dos.

As reformas nada mais são do que disputa política por recursos públicos de governos neoliberai­s que querem reduzir o papel do Estado. O objetivo é diminuir a “máquina” estatal, não para que ele seja mais ágil, mas para que o setor privado lucre com as atividades que antes eram públicas. O resultado desse modelo voltado para o mercado é o baixo cresciment­o, a instabilid­ade econômica, o aumento da dificuldad­e para desenvolve­r políticas estratégic­as para o país, a ampliação da pobreza e da concentraç­ão de renda.

A Reforma Administra­tiva tem ainda um item extremamen­te nefasto, o modelo de contrataçã­o de servidores de forma simplifica­da, por demanda, sem a necessidad­e de concurso público com edital amplamente divulgado. Isso favorece os cabides de emprego para “amigos do rei”. Vendida como possibilid­ade de modernizaç­ão e diminuição do custeio da máquina pública, a reforma é, na verdade, a institucio­nalização da precarizaç­ão na administra­ção, dos serviços públicos, das práticas patrimonia­listas, que desde os anos 1930 toda a sociedade tenta combater. Da maneira como está proposta, não podemos permitir a essa reforma pelo bem do Brasil.

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