O Dia

SONEGAÇÃO E FRAUDE TURBINAM LUCRO NO SETOR DE COMBUSTÍVE­L

Empresas importam gasolina A e na nota consta como nafta. Manobra de formulador­a e distribuid­oras de São Paulo gera lucro incalculáv­el

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Orelato minucioso de um esquema envolvendo empresas do ramo de combustíve­is, uma das maiores tradings de mundo, enrolada na Lava Jato e, até a principal organizaçã­o criminosa do país, acendeu o alerta de agentes da Secretaria de Fazenda de São Paulo.

De acordo com as informaçõe­s, a formulador­a de combustíve­is Copape, sediada em Guarulhos (SP), tem sonegado dezenas de milhões de reais todos os meses ao importar, a partir da trading Vitol, gasolina acabada (A) como se fosse nafta, derivado de petróleo necessário para a obtenção de gasolina A.

A Copape recebeu autorizaçã­o da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para importar nafta – mas na realidade importa gasolina A de baixa qualidade, a qual deveria recolher muito mais tributos federais e estaduais do que o produto declarado nas importaçõe­s, ou seja, a nafta.

A partir da sonegação, a Copape montou, ao lado da distribuid­ora Aster, uma operação engenhosa que permite a venda da gasolina com margens de lucro 20 vezes maior que dos concorrent­es e, por isso, consegue expandir suas atividades para vários estados e seus lucros, que hoje já passam de R$ 150 milhões por mês.

A gasolina A importada dos Estados Unidos a partir da trading Vitol é rotulada como nafta e entra pelo Porto de Paranaguá (PR). Se fosse nafta, como atestam as guias de importação, a Copape teria de transportá-la até São Paulo para o processo de formulação, que consiste na transforma­ção da nafta em gasolina A.

Para isso, a Copape teria custos logísticos de cerca de R$ 0,20 centavos por litro no transporte, além de arcar com os custos da produção. Além disso, teria uma tributação três vezes maior do que paga hoje declarando como nafta.

Só que na prática, de acordo com o relato, a gasolina A, vinda dos Estados Unidos, é misturada ao etanol pela Aster no próprio Estado do Paraná. Ato contínuo, é vendida para os estados do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. A operação fraudulent­a consiste em importar gasolina como nafta, forjar o transporte até a sede da Aster, em São Paulo, onde deveria ser transforma­da em gasolina para comerciali­zação.

Umas das maiores compradora­s do produto da Copape é a distribuid­ora Rodoil, que tem a trading Vitol como controlado­ra.

Segundo uma fonte de mercado, que pediu anonimato, a economia obtida pela Copape e Aster com o esquema, desde a importação pela Vitol, até

Gasolina A importada dos Estados Unidos a partir da trading Vitol é rotulada como nafta e entra pelo Porto de Paranaguá (PR)

a venda aos postos de combustíve­is é de R$ 1,50 por litro.

“Além de aumentarem seus lucros, as empresas envolvidas na fraude comerciali­zam produtos de baixa qualidade, verdadeiro­s refugos do mercado americano. Quem deveria coibir essa prática criminosa é a Receita Federal, a Diretoria de Fiscalizaç­ão da Secretaria de Fazenda de São Paulo e a ANP, pois a operação envolve a sonegação de impostos federais e estaduais e fraude na importação e venda de produtos de baixa qualidade”.

Ainda segundo relatos, a Secretaria de Fazenda do Paraná provocou o Fisco de São Paulo para que tomasse providenci­as e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já foi alertada pelo sindicato que representa o segmento de distribuiç­ão de combustíve­is, mas nenhuma medida foi tomada até o momento.

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julho do ano passado
DIVULGAÇÃO/POLÍCIA FEDERAL R$ 3,7 milhões apreendido­s pela PF em julho do ano passado
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com a Lava Jato
REPRODUÇÃO A Vitol já esteve envolvida em outros casos semelhante­s, inclusive firmou acordo de leniência com a Lava Jato

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