O Dia

O drama de quem adoeceu no começo da pandemia

Um ano depois, primeiros pacientes com covid contam como foi lidar com as dúvidas sobre o tratamento da doença.

- RICARDO SCHOTT ricardo.schott@odia.com.br

Um verdadeiro filme de terror, numa época em que se sabia ainda muito pouco. O cenário disponível para as pessoas que pegaram a covid-19 logo na primeiríss­ima onda da enfermidad­e, nos primeiros meses de 2020, era de tensão extrema, até pelas péssimas notícias que chegavam de todos os lugares do mundo. Os boletins a respeito da doença ainda deixavam margens até sobre o uso de máscaras e medicament­os.

Internada com sintomas da covid em 24 de abril, a professora de inglês Claudia Maria Vasconcell­os Lopes, 56 anos, se recorda bem dessa época, que foi de total inseguranç­a para ela e para toda a sua família. “Cheguei a ir para o CTI por causa da falta de ar que eu tinha. A covid tira sua fome, você não tem vontade de comer. Fiquei cinco dias sem comer ou beber nada. Os funcionári­os do hospital entravam no quarto muito rápido, todo mundo com muito medo”, recorda.

“Fiquei internada durante 20 dias, e depois mais 20 dias trancada no quarto, sem poder sair”, conta ela, lembrando que tudo era muito novo naquela época, inclusive os procedimen­tos. “O protocolo era totalmente diferente.

Muitos procedimen­tos a serem tomados com os pacientes mudaram com o passar dos meses

Quando fui internada, disse que não iria tomar cloroquina por questões ideológica­s. Me respondera­m: ‘Você não tem direito a questões ideológica­s, você está morrendo!’ Só no quinto dia interrompe­ram a medicação, porque é um remédio que ataca demais o coração, e comecei a ‘bater pino’”.

Claudia precisou fazer fisioterap­ia respiratór­ia para conseguir falar - um enorme problema para uma professora. “Também comecei a esquecer coisas, até palavras em inglês. Fiquei com arritmia cardíaca e bronquite, e ligo com a inseguranç­a em relação à memória. Foi algo que me assustou, mas as coisas foram voltando a seus lugares”, diz.

Um pouco mais de sorte teve o aposentado Osni Aragão, de 77 anos, morador de São Pedro da Serra. Ele pegou covid logo no comecinho da pandemia, durante uma viagem a Friburgo, e não teve sintomas pesados. “Senti uma fraqueza absurda dias depois, além de diarreia. Me atenderam muito bem no hospital público. Fizeram os exames e eu não tinha outros sintomas”, conta. Mas ele lida com sequelas. “Me canso para fazer coisas que sempre fiz. Saio sempre de máscara, com álcool gel na mão, e fico espantado com as pessoas que não levam isso a sério”, conta.

Funcionári­os do hospital entravam no quarto muito rápido, todo mundo com muito medo CLAUDIA LOPES, professora de inglês e ex-paciente de covid-19

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aplaudido pela equipe do Hospital
Icaraí, em Niterói
DIVULGAÇÃO/HOSPITAL ICARAÍ Eduardo (sentado) tendo alta em 2020, aplaudido pela equipe do Hospital Icaraí, em Niterói
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REPRODUÇÃO Fisioterap­ia respiratór­ia: técnica ajuda a salvar pacientes com falta de oxigenação
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ARQUIVO PESSOAL A professora Claudia com o filho, João Carlos: separados por um vidro

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