O drama de quem adoeceu no começo da pandemia
Um ano depois, primeiros pacientes com covid contam como foi lidar com as dúvidas sobre o tratamento da doença.
Um verdadeiro filme de terror, numa época em que se sabia ainda muito pouco. O cenário disponível para as pessoas que pegaram a covid-19 logo na primeiríssima onda da enfermidade, nos primeiros meses de 2020, era de tensão extrema, até pelas péssimas notícias que chegavam de todos os lugares do mundo. Os boletins a respeito da doença ainda deixavam margens até sobre o uso de máscaras e medicamentos.
Internada com sintomas da covid em 24 de abril, a professora de inglês Claudia Maria Vasconcellos Lopes, 56 anos, se recorda bem dessa época, que foi de total insegurança para ela e para toda a sua família. “Cheguei a ir para o CTI por causa da falta de ar que eu tinha. A covid tira sua fome, você não tem vontade de comer. Fiquei cinco dias sem comer ou beber nada. Os funcionários do hospital entravam no quarto muito rápido, todo mundo com muito medo”, recorda.
“Fiquei internada durante 20 dias, e depois mais 20 dias trancada no quarto, sem poder sair”, conta ela, lembrando que tudo era muito novo naquela época, inclusive os procedimentos. “O protocolo era totalmente diferente.
Muitos procedimentos a serem tomados com os pacientes mudaram com o passar dos meses
Quando fui internada, disse que não iria tomar cloroquina por questões ideológicas. Me responderam: ‘Você não tem direito a questões ideológicas, você está morrendo!’ Só no quinto dia interromperam a medicação, porque é um remédio que ataca demais o coração, e comecei a ‘bater pino’”.
Claudia precisou fazer fisioterapia respiratória para conseguir falar - um enorme problema para uma professora. “Também comecei a esquecer coisas, até palavras em inglês. Fiquei com arritmia cardíaca e bronquite, e ligo com a insegurança em relação à memória. Foi algo que me assustou, mas as coisas foram voltando a seus lugares”, diz.
Um pouco mais de sorte teve o aposentado Osni Aragão, de 77 anos, morador de São Pedro da Serra. Ele pegou covid logo no comecinho da pandemia, durante uma viagem a Friburgo, e não teve sintomas pesados. “Senti uma fraqueza absurda dias depois, além de diarreia. Me atenderam muito bem no hospital público. Fizeram os exames e eu não tinha outros sintomas”, conta. Mas ele lida com sequelas. “Me canso para fazer coisas que sempre fiz. Saio sempre de máscara, com álcool gel na mão, e fico espantado com as pessoas que não levam isso a sério”, conta.
Funcionários do hospital entravam no quarto muito rápido, todo mundo com muito medo CLAUDIA LOPES, professora de inglês e ex-paciente de covid-19