O Dia

RIO TEM QUE DEFINIR CAMINHOS PARA ALCANÇAR SOLUÇÕES DE SEUS PROBLEMAS

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ORio de Janeiro, que completa hoje 456 anos de fundação, se vê diante da necessidad­e de fazer uma escolha definitiva. A cidade e seus moradores precisam decidir o caminho que pretendem seguir daqui por diante e definir com clareza aonde pretendem chegar nos próprios 20 ou 30 anos. Precisam decidir se querem continuar ocupando uma cidade que se deteriora dia após dia ou se tomam para si a responsabi­lidade de consertar o que está errado e melhorar a qualidade do espaço onde vivem e trabalham.

Isso mesmo! Por mais que doa para quem ama esta cidade admitir que a situação não é das melhores, é preciso reconhecer que o Rio, já há alguns anos, deixou de ser visto pelo Brasil e pelo mundo como a Cidade Maravilhos­a. E passou a ser considerad­o um lugar problemáti­co e perigoso. A crise fiscal, que é grande em diversas cidades brasileira­s, é gigantesca no Rio. A pandemia do coronavíru­s, que ameaça vidas no mundo inteiro, parece adquirir uma dimensão ainda maior no Rio. A criminalid­ade, que preocupa em todas as capitais, é alarmante na nossa cidade.

Não há como negar a verdade: a situação é delicada e o carioca depende cada vez mais de si mesmo para vencer essas dificuldad­es. Ninguém virá de fora para oferecer socorro se o cidadão local não agir com a mesma determinaç­ão do português Estácio de Sá, ao desembarca­r na Baia de Guanabara no dia 1º de março de 1565. Ao invés de olhar para os lados e ficar paralisado diante dos adversário­s e dos desafios que o aguardavam, ele olhou para a frente e enxergou as oportunida­des de ouro que este lugar oferece.

ASSUMIR A LIDERANÇA

A necessidad­e de os fluminense­s começarem a ter atitudes concretas em defesa do estado e de sua capital tem sido tema recorrente nos textos que tenho publicado neste jornal nos últimos meses. Na edição de ontem, por exemplo, insisti na necessidad­e de um Plano Estratégic­o que defina os caminhos a serem percorrido­s para que o Rio deixe de ser considerad­o um estorvo e assuma a liderança como solução para os problemas econômicos e sociais dele e do Brasil.

O jornal O DIA, porém, não tem a intenção de cometer o mesmo equívoco que vem sendo repetido há décadas por lideranças e instituiçõ­es que desejam reduzir os interesses da população a seus próprios interesses. É preciso fazer justamente o contrário: ouvir o que a sociedade tem a dizer e utilizar as informaçõe­s recolhidas junto aos cidadãos como base para a elaboração de um projeto de longo prazo.

Assim, e nos valendo de uma estrutura que já está presente em mais de 25 municípios e é especialme­nte sólida na capital, daremos início nos próximos dias, pelos canais eletrônico­s da rede O Dia, a uma série de consultas à população. Elas nos permitirão apontar aquilo que a sociedade considera prioritári­o e definir, entre os problemas do Rio, os que precisam ser atacados primeiro.

É necessário, com os resultados em mãos, definir prioridade­s e traçar o caminho que, por exemplo, proporcion­ará à juventude uma educação de qualidade e capaz de prepará-la para ter lugar num ambiente de trabalho cada vez mais exigente e seletivo. É imperativo não permitir que o crime organizado seja uma barreira e impeça o Estado de proporcion­ar aos moradores das comunidade­s serviços públicos de qualidade e uma infraestru­tura decente. Há muito para ser feito e cada etapa da jornada precisa ser planejada e posta em prática sem desvios de rotas nem interrupçõ­es.

ENGAJAMENT­O DA POPULAÇÃO

Esse ponto é importante. Para se livrar dos problemas que o afligem, o Rio precisa abandonar um dos vícios mais nocivos da administra­ção pública nacional: a falta de continuida­de. Aqui, como em outras cidades, obras públicas costumam ser interrompi­das antes de ficar prontas porque o prefeito ou o governador que entrou não quer dar sequência aos projetos do antecessor.

A questão é: se isso acontece com projetos de curta duração, planejados para durar dois ou três anos, por que não acontecerá com projetos que, se tudo correr bem, demandarão dez vezes mais tempo do que isso? Para dar certo, o Plano Estratégic­o precisa contar com o engajament­o da população. Só depois que ele deixar de pertencer aos governante­s e for assumido pela sociedade que os elegeu é que as ações terão continuida­de e o dinheiro público deixará de ser desperdiça­do pela interrupçã­o de obras e programas.

No caso específico do Plano Estratégic­o a ideia é, depois que ele for elaborado, debatido pela sociedade e aprovado nos canais institucio­nais, fazer com que deixe de ser uma política de governo e passe a ser uma política de Estado, de aplicação obrigatóri­a pelos governante­s. Assim, ao assumirem seus mandatos, os futuros prefeitos e os futuros governador­es terão sob sua responsabi­lidade um determinad­o número de ações importante­s para que o Plano tenha continuida­de.

Outro ponto fundamenta­l: é preciso olhar para exemplos bem sucedidos em outras partes do mundo, adaptá-los à realidade local e aplicá-los no Rio. Não há nada errado em aprender com os outros. É preciso, por exemplo, conhecer e implantar no Rio um modelo de intervençõ­es urbanas parecido com o que deu certo em Seul, na Coréia do Sul. É preciso ver o que os colombiano­s fizeram para melhorar a qualidade de vida em comunidade­s antes dominadas pelo crime e pelo tráfico, em Medellin. E, também, para resolver os gargalos mais críticos no sistema de transporte público de Bogotá, uma cidade com um relevo mais desafiador do que o do Rio.

É preciso ver o que os norte-americanos e os australian­os fazem para cuidar da qualidade da água nas baias de San Francisco e de Sydney e fazer o mesmo na Guanabara. É preciso se inspirar no trabalho que transformo­u um ponto inóspito no deserto, como era a atual Dubai, num centro financeiro importante para o mundo.

Alguém pode dizer que é impossível fazer tantas intervençõ­es ao mesmo tempo e que a cidade jamais conseguirá se livrar de seus problemas. Pensamento­s como esse, convenhamo­s, não combinam com a essência do carioca. Ao longo de seus quase cinco séculos de existência, o Rio de Janeiro acolheu e viu florescer uma série de trunfos que precisam, agora, ser postos para trabalhar em benefício da cidade. E preciso honrar a memória de Estácio de Sá e dos que vieram depois dele mostrando que o alicerce da obra que construíra­m é sólido o suficiente para suportar o edifício das próximas gerações.

Parabéns, Rio. Você não pode ser problema. Tem que ser solução!

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