Sobre mudar bula da cloroquina: ‘Sem cabimento’
Ao ouvir proposta, presidente da Anvisa diz que sua reação foi um “pouco deseducada”
Ao depor na CPI da Covid, diretor-presidente da Anvisa confirmou reunião para tratar do tema.
Em depoimento à CPI da Covid ontem, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, confirmou e deu mais detalhes sobre a realização de uma reunião no Palácio do Planalto em que se discutiu um decreto que incluiria na bula da cloroquina a recomendação para tratar covid-19. Barra Torres relatou que, ao ouvir a proposta, sua reação foi até um “pouco deseducada” já que não haveria cabimento na sugestão de alteração da bula.
O presidente da Anvisa disse que não saberia dizer quem foi o autor original da proposta, mas que percebeu uma “mobilização” por parte da imunologista Nise Yamaguchi, presente no encontro. “Documento foi comentado pela Nise, o que provocou reação até pouco deseducada, de falar que aquilo não poderia ser, só quem pode modificar bula de medicamento é a agência, mas desde que solicitado pelo detentor do registro do medicamento”, comentou Barra Torres.
Ele destacou que, para se alterar uma bula de medicamento, é necessário um “pesado dossiê” por parte da fabricante de que a nova indicação tem comprovação científica: “Então, quando houve proposta de pessoa física de fazer isso causou reação mais brusca. Não pode, não tem cabimento”.
Barra Torres narrou que, depois dessa sugestão ser comentada durante a reunião, no 4º andar do Palácio do Planalto, o encontro não “durou muito”. “Depois dessa proposta, Mandetta (ex-ministro da Saúde) se retirou, e logo depois eu saí, não tenho informação de quem foi o autor. A doutora Nise perguntou da possibilidade e pareceu estar mobilizada com essa possibilidade”.
Segundo Barra Torres, além de Nise Yamaguchi, estavam presentes na reunião Walter Braga Netto e Luiz Henrique Mandetta. “E realmente não tenho na minha memória um registro da presença do ministro Jorge Oliveira e do ministro Ramos”, finalizou.