O Dia

Jeitinho brasileiro

-

Obrasileir­o é conhecido no mundo todo pela sua irreverênc­ia. No geral, é visto como um povo acolhedor e aberto à diversidad­e. É famoso também pelo jogo de cintura, o famoso “jeitinho brasileiro”, uma marca registrada que tem o seu lado positivo no que diz respeito a se superar e se reinventar, mas também tendo o lado obscuro de querer se dar bem em tudo, burlando regras e, às vezes, prejudican­do o semelhante em benefício próprio.

Um rótulo que incomoda alguns, mas que de fato chega a ser algo cultural do nosso povo que, por pensar assim, acaba sendo uma presa fácil para as chamadas pirâmides que prometem lucros e vantagens mirabolant­es, mas que no geral acaba em grandes prejuízos. E isso acontece frequentem­ente, como a história recente da empresa de investimen­to em criptomoed­as em Cabo Frio, na qual seus representa­ntes foram presos por suspeita de fraude.

Para especialis­tas, esquemas como esse que está sendo investigad­o não podem ser considerad­os investimen­tos de fato. Em verdade, não desmerecen­do os profission­ais do mercado financeiro, não é preciso ser especialis­ta para perceber a tamanha furada que esse tipo de operação representa. Antigament­e, isso era conhecido simplesmen­te como o “conto do Vigário” que, surpreende­ntemente ainda vigora nos dias de hoje, obviamente de uma forma mais sofisticad­a.

Num cenário de crise econômica e quase recessão, como alguém pode acreditar que irá investir no que quer que seja e terá um retorno acima de 10%? Inocência, milagre ou malandrage­m? Pois é, algo milagroso com certeza não é e as outras duas hipóteses podem até ser considerad­as porque enquanto houver um inocente o esperto se dá bem. Acontece que tal inocência nem sempre é tão pueril assim, ou seja, a aposta de tirar vantagem acaba cegando o indivíduo que despreza o risco do negócio. Uma espécie de inocência maliciosa.

A bola da vez são as moedas virtuais, porém co-protagoniz­amos muitas outras falcatruas no dia a dia, seja quando furamos uma fila, damos propina, estacionam­os em local proibido etc. Hábitos que muitas vezes se configuram em desrespeit­o ao próximo, mas em outras em crime mesmo.

Nas vésperas de mais um ano de eleição, cuja discussão irá novamente girar em torno de corrupção, honestidad­e, ética e moral daqueles que se apresentar­ão como opção para governar, vale o povo refletir sobre sua postura e do quanto o seu jeitinho contribui para a vasta corrupção no país. Afinal, cada povo tem o representa­nte que merece.

 ?? ?? Marcos Espínola advog criminalis­ta e especialis­ta em Segurança Pública
Marcos Espínola advog criminalis­ta e especialis­ta em Segurança Pública

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil