COM ABRIGO ANTIAÉREO, GALERIA MENESCAL COMPLETA 80 ANOS
Bunker foi construído na garagem do edifício na época da Segunda Guerra Mundial. Prédio foi tombado pela prefeitura em 2007 e conta com uma decoração Art-Déco
Adecoração com um toque Art-Déco e a arquitetura da Galeria Menescal, em Copacabana, Zona Sul do Rio, proporciona uma viagem no tempo para quem passa pelo corredor do edifício. Situada entre as ruas Santa Clara e Figueiredo Magalhães, a galeria, tombada pela Prefeitura em 2007, completa 80 anos de história em cada detalhe do prédio, como um bunker antiaéreo na garagem, construído na época da Segunda Guerra Mundial.
A loja de Klaus Scheyer Junior, de 52 anos, existe desde 1959 e foi passada de geração em geração. Seu avô, alemão, e sua avó, austríaca, vieram para o Brasil para fugir da guerra. “Na primeira guerra, minha família também veio para o Brasil, mas quando terminou, eles voltaram para Alemanha. Na segunda guerra, meu avô chegou a ser preso e veio para o Brasil”, explicou Klaus. “Não cheguei a conhecê-lo. Meu pai herdou essa loja e, quando eu era menor, vivia aqui na galeria”, completou. O pai de Klaus tinha uma doença chamada hemiplegia, que deixava o lado esquerdo do seu corpo paralisado. “Por causa da doença, eu comecei a trabalhar com ele, das 16h30 às 19h30. Nossa loja começou a trabalhar com fotografia, charutos e hoje é uma ótica e vende relógios também”, comentou.
A clientela da loja de Klaus é fixa desde a época de seu pai. “Até hoje tenho clientes que lembram do meu pai, que conheceram ele”, declarou. “Eu praticamente nasci dentro dessa galeria. Tem foto minha de fralda no chão dela, por exemplo. A galeria é a história da minha vida”, concluiu Klaus, que assumiu o cargo de síndico do edifício há, pelo menos, um ano. “A galeria tem algumas curiosidades, ela conta história por si só. Na nossa garagem, existe um bunker todo reforçado, com uma
Os antigos moradores do prédio que abriga a galeria eram personagens ilustres da história
subestação de luz instalada. Toda a construção do prédio é reforçada.”
De acordo com Klaus, antigamente quem morava nos apartamentos do prédio da galeria eram os grandes ricos do Rio de Janeiro e personagens ilustres da história do Brasil, como os médicos presidenciais.
O tempo passou e o tipo de consumo mudou. Hoje em dia, com os inúmeros shoppings espalhados pelo mundo, as galerias perderam um pouco a força, mas não totalmente. Segundo o professor de MBA de Marketing da FGV, Roberto Kanter, a galeria Menescal tem um ciclo de lojas como qualquer outra que vão se alternando. “O mercado é mais rápido e dinâmico que o tempo do prédio. A galeria já foi um lugar muito sofisticado, o ponto mais nobre de Copacabana, grandes marcas tiveram lojas lá dentro”, disse. “No entanto, atualmente ela conta com lojas de passagem. O varejo de rua já vem perdendo espaço em relação aos shoppings há um tempo, pela própria ideia do mix das lojas. A galeria é uma antecessora do shopping. Lá, as lojas são individuais, são donos separados”, explicou Roberto. “Por exemplo, são cinco lojas de sapato, uma
do lado da outra, diferente do shopping, que existe toda uma gestão do mix das lojas. A galeria já vem sentindo o tempo passar pelo próprio modelo de negócio dela”, completou.
De acordo com Roberto, a pandemia afetou bastante a maior parte das lojas de rua, que, em sua maioria, são lojas pequenas, de bairro, sem uma transformação digital tão grande. “A principal mudança do tipo de consumo hoje em dia foi juntar o virtual com o físico. O varejo físico tem uma dependência
grande do braço digital e uma boa parte das lojas da galeria não conseguem acompanhar o movimento”, comentou. “Um dos segredos das lojas se manterem, principalmente as de rua, é a clientela muito fiel. A diferença do tipo de comércio na Menescal para os shoppings é que boa parte dos lojistas da galeria são donos das lojas, não pagam aluguel, com isso o custo da operação fica mais acessível. No shopping, há uma necessidade de pagar aluguel, que é uma fortuna”, finalizou.
Eu praticamente nasci dentro dessa galeria. Tem foto minha de fralda no chão dela. É a história da minha vida” KLAUS SCHEYER JUNIOR, comerciante