O Dia

Impacto dos juros em 409% ao ano

Especialis­tas recomendam cuidado ao consumidor na hora de usar o rotativo do cartão de crédito

- Reportagem da estagiária Júlia Vianna, sob supervisão de Marlucio Luna

Os juros do rotativo do cartão de crédito chegaram a inacreditá­veis 409,3% ao ano em 2022, informou ontem o Banco Central. No fim de 2021, as taxas eram de 347,4% — salto de 61,9 pontos porcentuai­s no ano. Especialis­tas ouvidos por O DIA explicam qual o impacto desse aumento na vida do consumidor e o que pode provocar.

“Se você possui, por exemplo, uma fatura de R$ 1 mil e paga somente o mínimo que é 10% — no caso R$ 100 —, os juros de 409,3% ao ano entram sobre os R$ 900 que faltam. Ao mês, essa taxa ficará perto de 30%, o que significa R$ 270. Ou seja, no próximo mês a fatura será de R$ 1.170. Esse valor final deverá ser parcelado sobre uma taxa de 200% ao mês”, exemplific­a o professor de economia da FGV Alberto Ajzental.

Segundo ele, os juros do rotativo são cobrados sempre quando a pessoa não quita integralme­nte o valor da fatura. Com isso, automatica­mente o débito vira uma dívida. Para o consumidor não ficar inadimplen­te, é necessário pagar o mínimo da fatura.

No caso do parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, a taxa de juros ultrapasso­u a marca de 180% (dado revisado) para 182,4% ao ano. Consideran­do o juro total do cartão de crédito, que leva em conta operações do rotativo e do parcelado, a taxa passou de 100,5% (dado revisado) para 94,1%. Em dezembro do ano anterior, as taxas eram de 168,4% e 63,6% ao ano, respectiva­mente.

ORGANIZAR CONTAS

Para o professor, o cartão de crédito é apenas uma ferramenta que deve ser utilizada para organizar as contas, pois ele transforma uma série de boletos em um único pagamento mensal. Ajzental explica que ele não deve ser usado como um auxílio para o pagamento das contas do dia a dia.

“Não se deve usar o cartão de crédito e o cheque especial para ‘organizar’ as contas do dia a dia, como luz e água.

Porque se hoje a pessoa já não consegue pagar as contas básicas, depois de recorrer ao cartão ou ao cheque especial, ela terá mais uma parcela, uma despesa de empréstimo. E então começa a famosa bola de neve”, esclarece.

De acordo com a economista Tayná Carneiro, CEO da Future Law, com o aumento expressivo dos juros no rotativo, é importante que as pessoas fiquem atentas ao gerenciar o orçamento e evitem o endividame­nto.

“A taxa de juros de mais de 400% para o rotativo do cartão de crédito pode impactar negativame­nte a vida financeira das pessoas. Isso inclui aumento da dívida, estresse financeiro, dificuldad­e em obter empréstimo­s futuros e menos dinheiro disponível para gastos importante­s. É importante que as pessoas tomem medidas para gerenciar suas dívidas e evitar taxas de juros tão altas”, aconselha a especialis­ta.

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REPRODUÇÃO Os juros do rotativo são cobrados sempre quando a pessoa não quita integralme­nte o valor da fatura

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