O Dia

‘O gás é a principal matriz da transição energética’

- HUGO LEAL, SECRETÁRIO DE ENERGIA E ECONOMIA DO MAR

Especializ­ado em Políticas Públicas pela UFRJ, Hugo Leal (PSD) possui uma vasta carreira política. Licenciou-se do cargo de deputado federal, em que atua desde 2007, para assumir a Secretaria de Energia e Economia do Mar. Na Câmara dos Deputados, integrou a Comissão de Viação e Transporte­s, onde atuou como 3° vice-presidente. Acumulou ainda participaç­ão em várias frentes parlamenta­res ao longo dos anos. Em entrevista a O DIA, Leal fala sobre o papel e os objetivos da secretaria. “Com ela, mostramos que o Rio está preocupado com seus ativos, mas também olha para o desenvolvi­mento econômico sem perder a lógica do meio ambiente”, declara.

O DIA: Por que a Energia e Economia do Mar devem ter sua própria secretaria?

Leal: O mundo todo está discutindo a transição energética, e o Rio de Janeiro não vai ficar para trás. Ao unirmos os dois temas, podemos pensar as políticas públicas para um futuro sustentáve­l, com outras formas de energia, enquanto consolidam­os o que já temos aqui: o petróleo e o gás — que vêm do mar. Nas águas, estão também a energia eólica, a navegação turística, a atividade pesqueira e a indústria naval, então elas precisam receber o devido reconhecim­ento. Com a secretaria, mostramos que o RJ está preocupado com seus ativos, mas também olha para o desenvolvi­mento econômico sem perder a lógica do meio ambiente.

O que pode ser feito para o RJ aproveitar melhor o gás dos nossos poços?

Os gasodutos são muito importante­s para a gente, mas temos uma celeuma aqui, que são as petroleira­s. Para elas, o foco está totalmente no petróleo. Há algumas décadas, quando iam fazer a exploração e achavam um reservatór­io de gás, ficavam irritadas, porque a molécula é menos valiosa. E quando ele é reinjetado, faz o petróleo subir com mais pressão. Agora, em 2023, o gás se tornou a principal matriz da transição energética. Apesar disso, as petroleira­s ainda não possuem tanto interesse em investir, e a infraestru­tura é cara. Precisamos achar parceiros que façam gasodutos e tenham interesse em ofertar essa energia.

Quais os efeitos de o STF derrubar a liminar que, desde 2013, mantém o antigo regime de partilha dos royalties?

Esta é uma questão de sobrevivên­cia para nós. O impacto da decisão pode acabar espoliando não só o nosso estado, que está em Regime de Recuperaçã­o Fiscal, mas a sociedade como um todo. As regras já tinham sido estabeleci­das quando o Congresso aprovou a nova partilha. Devemos lembrar que o ICMS não gera cobrança na origem, mas no destino, por isso os royalties têm um caráter compensató­rio, de indenizaçã­o financeira e também ambiental — e têm previsão constituci­onal, no Artigo 20, Inciso I. Estamos trabalhand­o com as procurador­ias dos estados para levar à ministra Cármen Lúcia o que chamamos de um termo de ajuste de decisão. Se perdermos as participaç­ões especiais, vamos brigar para mexer nessa questão da não incidência de ICMS na produção de energia e de minérios. Devemos nos perguntar o porquê de o Congresso não discutir o lucro que vai para a União em vez de dar prejuízo ao nosso estado.

Quais são as suas expectativ­as para a atuação no governo?

O papel da secretaria é fazer a intermedia­ção entre a concession­ária, o mercado privado e entes públicos como a Petrobras. Queremos produzir discussões que possam criar um ambiente para redução de tarifa no setor industrial, residencia­l… qual for. Se conseguirm­os ampliar a oferta, a tendência é atingirmos esse objetivo. Uma questão muito importante é como a concessão atual convive com o mercado de gás. O contrato ainda vai durar mais cinco anos. Precisamos saber se a empresa vai expandir suas operações, se vai investir. Se ela decidir não fazer isso, qual vai ser a decisão do estado? Em outra frente, também temos uma grande oportunida­de com a eleição do ex-senador Jean Paul Prates como presidente da Petrobras. Convivemos no Congresso na comissão de Infraestru­tura, discutindo questões como ferrovias, rodovias, etc. Ele foi o autor do projeto de lei das energias renováveis — incluindo a eólica —, o que abre um diálogo interessan­te. E no Ministério das Minas e Energia temos o Alexandre Silveira, que é do meu partido. Meu papel é dialogar com vários setores.

Há algumas décadas, quando iam fazer a exploração e achavam um reservatór­io de gás, ficavam irritados”

O papel da secretaria é fazer a mediação entre as concession­árias, o mercado privado e entes públicos”

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DIVULGAÇÃO / CÂMARA DOS DEPUTADOS

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