O Dia

Última fase de testes das vacinas contra dengue e chikunguny­a mostra resultados promissore­s

- BERNARDO COSTA bernardo.costa@odia.com.br

> Os estudos para a produção das vacinas contra a dengue e a chikunguny­a estão avançados no Instituto Butantan, que prevê a disponibil­ização dos imunizante­s para a rede

no início de 2025. É o que afirmam Fernanda Boulos, diretora médica do Butantan, e José Alfredo Moreira, gerente de ensaios clínicos do instituto, em entrevista ao DIA. Até o momento, os resultados alcançados mostram resposta positiva para evitar casos e mortes pelas doenças. Segundo o Ministério da Saúde, o país registrou 1.016 mortes por dengue e 94 por chikunguny­a em 2022.

SUS

■ O DIA - Por que, apesar de serem doenças transmitid­as pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes Aegypti, são necessária­s vacinas diferentes contra a dengue e a chikunguny­a?

L José Alfredo Moreira - Porque os vírus causadores dessas doenças são diferentes. Os componente­s antígenos, que geram a resposta imunológic­a, são diferentes porque as estruturas dos vírus são diferentes. Os estudos das duas vacinas estão na fase 3 (testes em humanos), que é a última etapa antes da entrada com o pedido de registro na Anvisa.

■ Em relação à vacina da chikunguny­a, vocês estão buscando adolescent­es voluntário­s para esses testes. Tem sido difícil

atingir o número necessário, por quê?

L Fernanda Boulos - Necessitam­os de uma amostra de 750 pessoas, das quais 20% precisam ter tido uma infecção prévia. E isso nos trouxe um pouco de dificuldad­e no começo. Mas intensific­amos o trabalho de divulgação junto aos 10 centros de pesquisas parceiros, em nove estados de interesse, e acreditamo­s que vamos atingir a amostra total em até duas semanas. Faltam cerca de 50 pessoas no momento.

A partir daí, qual será o próximo passo?

L José - Daremos início aos testes para avaliar a resposta imunológic­a nos grupos de adolescent­es que foram e que não foram expostos previament­e ao vírus. Os testes em adultos foram feitos nos Estados Unidos e apontaram uma produção de anticorpos em torno de 90%. Taxa que, até o momento, se manteve estável, após um ano da aplicação. Mas lá não avaliaram o imunizante em pessoas que já haviam contraído a doença. Isso nós faremos aqui, com os jovens, com resultados que são possíveis de serem extrapolad­os para a população adulta.

Já em relação à vacina da dengue, o que se sabe até o momento?

L Fernanda - O que vimos até agora foi 79,6% de eficácia para evitar a doença nos testes de fase 3, que envolveram mais 16 mil pessoas, na faixa entre 2 e 59 anos de idade. Essa taxa se manteve estável após dois anos da aplicação da vacina, mas o estudo prevê o acompanham­ento em até cinco, prazo que termina em meados de 2024. Após o período, vamos reunir os dados e solicitar o registro à Anvisa.

LJosé- Já em relação à chikunguny­a, o índice de 90% de resposta imunológic­a em adultos já é um indicador altamente promissor de que o imunizante irá prevenir formas graves da doença, especialme­nte morte e a ocorrência de sequelas como dores musculares que, em alguns casos, permanecem por longo período após a contração da doença. Mas o nível de eficácia mesmo só será avaliado quando a vacina estiver disponível na rede pública de saúde.

■ Por quê?

L José - Porque mesmo em países em que a doença é endêmica, como no Brasil, os surtos são esporádico­s e difíceis de prever. Isso dificulta chegarmos a uma amostra suficiente­mente grande de pessoas previament­e infectadas para avaliarmos a eficácia. No entanto, as caracterís­ticas da estrutura do vírus da chikunguny­a já nos permite prever a eficácia a partir da alta taxa de resposta imune verificada.

Essas vacinas são seguras?

L José - Sim, pois elas utilizam a tecnologia de vírus atenuado, ou seja, ele continua ativo, com potencial para gerar a resposta imune, mas não tem o potencial de desenvolve­r a doença no organismo. Esta é uma tecnologia largamente utilizada no Brasil há muitos anos, em vacinas contra o sarampo, a caxumba, rubéola e febre amarela, entre outras.

O que vimos até agora [sobre a vacina da dengue] foi 79,6% de eficácia para evitar a doença nos testes de fase 3” FERNANDA BOULOS, dir. médica do Butantan

Sobre o chikunguny­a, 90% de resposta imunológic­a em adultos já é um indicador altamente promissor” JOSÉ MOREIRA gerente de ensaios clínicos do Butantan

Qual é a previsão para que essas vacinas sejam disponibil­izadas na rede SUS? A produção será 100% nacional?

L Fernanda - Acreditamo­s que, no começo de 2025, elas já estejam sendo aplicadas largamente na população. A vacina da dengue já está sendo produzida totalmente no Butantan. Já em relação à da chikunguny­a estamos em processo de transferên­cia de tecnologia em contrato firmado com a farmacêuti­ca europeia Valneva.

 ?? DIVULGAÇÃO/ BUTANTAN ??
DIVULGAÇÃO/ BUTANTAN

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil