O Dia

Paulistano­s e piauienses saem à frente

- Raul Velloso consultor econômico

“Viva os paulistano­s (lembro que São Paulo aqui é a cidade, não o estado) e os meus patrícios piauienses, pois seus dirigentes resolveram sair na frente nesse assunto e fazer o certo”

Além de defender a queda dos juros, juntamente com todos, Lula propõe a expansão dos investimen­tos públicos, pois sabe que uma questão macro fundamenta­l de hoje é como abrir espaço nos orçamentos públicos para encaixar maiores gastos de investimen­to em infraestru­tura e fazer o PIB crescer mais. E olhe que, talvez, nem tenham lhe mostrado um gráfico com os investimen­tos privados nessa área oscilando em torno de 1% do PIB desde os anos 1980, e os públicos desabando nove vezes, mesmo quando medidos em % do PIB!

Enquanto isso, a abertura de espaço para os investimen­tos públicos via uma maior tributação obviamente não fecha, apesar dos bem-intenciona­dos defensores de arcabouços.

Para abrir espaço orçamentár­io, a saída é buscar o item de maior peso no gasto (ou seja, a Previdênci­a) e fazer o seu ajuste do jeito certo. Aprendi com o especialis­ta Leonardo Rolim que a própria Constituiç­ão manda aplicar a solução correta que pouquíssim­os adotam (§1º do Art.9º da EC 103/19), que acabamos de discutir e pode ser vista no Fórum Nacional, que dirijo, em https://www.youtube.com/watch?v=O6CRqiP_KtM).

Resumidame­nte, o passo-a-passo é o seguinte. Apurado o déficit atuarial (valor presente dos déficits anuais), faz-se primeiro o máximo de reforma de regras que der em cada mode mento, como a de 2019, embora esta, infelizmen­te, tenha tido implementa­ção obrigatóri­a apenas no caso da União. Depois, aporta-se o máximo possível de ativos reais ao fundo previdenci­ário único existente e calcula-se a alíquota patronal extraordin­ária que zera o déficit atuarial em 35 anos, conforme as regras atuais.

Se for muito alta (e, portanto, proibitiva), separa-se a massa de servidores novos dos demais, “comprando”, os primeiros, parte das vidas dos demais (ou seja, dos mais velhos), tais que seu custo possa ser coberto exatamente pelas contribuiç­ões dos mais novos, no fundo novo. Feito isso, estabelece-se uma nova vinculação anual de receita à previdênci­a no ente em causa (como o Imposto de Renda Retido na Fonte dos Servidores, por um período suficiente­mente longo), a fim de lastrear o pagamento dos benefícios previdenci­ários dos servidores novos a se tornarem exigíveis no futuro.

Dessa forma, fica garantido que o déficit do ente zera em termos atuariais, e que o dispositiv­o constituci­onal acima mencionado seja cumprido. Fazer cada caso individual­mente pode durar mais de um mandato, mas é melhor demorar do que não fazer...

Para encerrar, viva os paulistano­s (lembro que São Paulo aqui é a cidade, não o estado) e os meus patrícios piauienses, pois seus dirigentes resolveram sair na frente nesse assunto e fazer o certo. Pelos meus cálculos, em vez de ter de zerar seus investimen­tos no final da década de 2030, a metrópole paulistana e o meu Piauí poderão quadruplic­ar os seus entre 2017 e 2026.

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