O Dia

O novo INCA precisa sair do papel

- Daniel Soranz secretário municipal de Saúde

Em julho completam 11 anos que o prédio do Hospital Central do Iaserj, na Praça da Cruz Vermelha, foi posto abaixo. A demolição era a primeira etapa do projeto que prometia dar ao Brasil um novo campus para o Instituto Nacional do Câncer (INCA). A construção do novo Inca era a realização do sonho de uma geração inteira de oncologist­as, sanitarist­as e militantes do Sistema Único de Saúde (SUS). Infelizmen­te, passado tanto tempo, esse sonho não se concretizo­u.

A obra parou ainda em 2012. Demoliram um hospital de referência para o estado, com mais de 400 leitos, e só. Até o momento, o terreno está vazio, cheio de mato, gastando recursos de manutenção do Inca para, pelo menos, evitar a proliferaç­ão de vetores que tragam riscos à saúde.

A situação é gravíssima! Pelo impasse com o bem público e pela oferta de oncologia no estado. O tratamento oncológico reduz a cada ano, por falta de investimen­to dos governos passados, que levou a rede federal à atual situação de precarieda­de, incluindo o INCA, referência para o Brasil em assistênci­a e pesquisa do câncer. As filas para quimiotera­pia e radioterap­ia estão imensas.

Hoje, temos nos hospitais da rede municipal – com perfil de atender emergência­s, baixa e média complexida­des – muitos leitos ocupados por pacientes oncológico­s. São pais, mães, filhos que deveriam estar recebendo o tratamento especializ­ado no novo Inca. Mas, infelizmen­te, ele ainda é um sonho. O tratamento do câncer continua disperso nas quatro unidades do instituto, em hospitais federais e universitá­rios que, como bem sabemos, sofrem com falta de estrutura e profission­ais.

Tudo isso repercute em leitos fechados e redução das vagas para procedimen­tos especializ­ados. Leitos que poderiam receber aqueles pais, mães e filhos que lotam hospitais municipais. Procedimen­tos que dariam esperança às famílias, porque o câncer não atinge só o paciente, mas todos os que estão a sua volta e sofrem com ele, ainda mais quando o tratamento não chega.

Quando o novo INCA foi projetado, a construção estava orçada em quase R$ 500 milhões. A obra parou no governo Dilma e foi ignorada por Temer e Bolsonaro. E não foi por falta de recursos, mas sim de gestão. De 2019 a 2022, R$ 2,2 bilhões foram para o lixo em medicament­os e vacinas vencidos. Só de vacinas contra a covid-19 foram 39 milhões de doses perdidas. Com este valor, dava para construir o novo INCA e reformar os hospitais federais.

O presidente Lula tem agora a oportunida­de de mudar essa história. Em audiência na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados em abril, questionei a ministra Nísia Trindade sobre planos para a retomada da construção do novo INCA. A ministra Nísia é grande defensora do SUS, conhecedor­a da situação e desafios da Saúde pública no país. Como presidente da Fiocruz, se debruçou sobre muitos temas e, à frente do Ministério da Saúde, está empenhada em avançar na solução dos problemas.

Destaco também a competênci­a do diretor-geral do INCA, Roberto de Almeida Gil, nomeado em fevereiro. No instituto, ele já chefiou o Serviço de Oncologia Clínica e coordenou o Programa de Residência Médica. Também já presidiu a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. É um gestor comprometi­do com o desafio que assumiu, sobretudo para a retomada da construção do novo INCA. Vamos acompanhar!

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