O Dia

Mais um caso de racismo no futebol

- Ivanir dos Santos babalawô, prof. e orientador no PPGHC/ UFRJ

Essa frase não deveria vir com a entonação de veemência, mas aqui precisamos quantifica­r e especifica­r que o racismo tem, cada vez mais, expandindo suas ações dentro de uma das maiores modalidade­s esportivas do mundo. Infelizmen­te, não é incomum encontrarm­os casos de racismo e de uma segregação “invisível” dentro do futebol.

Ao voltarmos os nossos olhos para a introdução da modalidade esportiva dentro dos contextos sociais, é perceptíve­l que em um primeiro momento as pessoas negras não eram permitidas a assistir e praticar o futebol. Sim, historicam­ente o esporte que, atualmente, ainda é para muitos jovens negros e suburbanos um sonho, até a segunda metade do século XIX era permitido apenas para as elites brasileira­s, ou seja, pessoas brancas.

Mas ressalto aqui que “ser para elite” não significou um impediment­o para que volta e meia pessoas negras pudessem jogar o seu futebol! Mas em termos profission­ais essa modalidade esportiva, considerad­a “nobre”, era “apenas” para pessoas brancas.

Na virada do século XIX para o século XX, temos os primeiros clubes brasileiro­s a aceitar a participaç­ão de pessoas negras no futebol. Segundo o Observatór­io Racial do Futebol, o registro de “pessoas de cor” foi proibido no futebol carioca em 1907, depois de Francisco Carregal, atleta negro, ter jogado pelo Bangu em 1905.

Com a participaç­ão de atletas negros no futebol, mesmo que ainda de forma ínfima, também começou a eclodir casos de racismo nos campos de futebol e nas manchetes de jornais. Em 1920, o jornal argentino “Crítica”; retratou atletas da seleção brasileira como macacos, o caso além de ganhar repercussã­o internacio­nal também inibiu a participaç­ão dos jogadores que se recusaram a entrar em campo. Agora, 103 anos depois, mesmo com movimentos em prol da luta contra o racismo, ainda assistimos episódios de racismo cotidianam­ente nos espaços esportivos e principalm­ente no futebol.

O caso do atleta Vini Jr, jogador pelo Real Madri e com atuações na seleção brasileira de futebol, além de nos fazer rememorar o que historicam­ente outros atletas negros e negras vivem, as vezes em silêncio, nos lança para reflexões que ainda são extremamen­te importante­s para a decolonial­idade do poder e ser em uma sociedade que ainda vive sobre o passado colonial.

Precisamos pontuar que a questão não é apenas o racismo no futebol, mas sim o racismo como uma das engrenagem de opressão e tentativas de supressão dos direitos das pessoas negras, seja dentro ou fora do Brasil. Pois o racismo não nasceu nos campos de futebol, ele, o racismo, passou a ser partes constituin­tes da modalidade esportiva, por assim dizer das modalidade­s esportivas. Pois como bem sabemos, ainda vivemos em uma sociedade racista e hierarquiz­ada com base na cor da pele. Muito embora, nos anos 2000, as entidades começaram a enxergar o racismo como uma prática passível de punição.

De acordo com o Observatór­io do Futebol, a primeira punição a um clube no Brasil aconteceu apenas em 2005. Entretanto, o que desejamos é que o racismo no futebol possa ser uma prática passível de punição também fora do Brasil.

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