O Dia

Duas notas sobre liberdade

- Prof. de Hist., pres. da Fund. Catarinens­e de Cultura e ex-pres. da Biblioteca Nacional

Os tempos mais sombrios da história nos ensinam que a liberdade não pode ser relativiza­da sem um custo muito alto. É um dos pilares fundamenta­is que sustentam toda nação verdadeira­mente democrátic­a, sem o qual o devido processo legal é aviltado, espalhando-se, assim, aquele embotament­o mental que nasce do temor de uma injusta coerção.

A liberdade não é absoluta, como todos sabem. Mas nem por isso ela pode ser relativiza­da de qualquer jeito.

Se a liberdade irrestrita pode resultar em caos, não custa lembrar que seus limites são a própria circunscri­ção dentro da qual ela pode prosperar. Eles são definidos pela lei, reflexo dos valores que a sociedade escolheu preservar.

Os parlamenta­res, representa­ntes legítimos do povo, são responsáve­is por redigir as leis que estabelece­m os limites dessa liberdade. Só quando a lei impera faz sentido falar em democracia e Estado de Direito, pois só assim a vontade coletiva se faz norma, e os direitos individuai­s de todos os cidadãos são protegidos contra os abusos do próprio Estado.

Relativiza­r a liberdade é relativiza­r a prisão, e todo o processo que deve ser seguido para que ela possa ocorrer. É relativiza­r o pensamento, porque este só pode se desenvolve­r mediante livre e metódica condução, jamais por coerção. É relativiza­r a violência, como se o poder estatal pudesse agir como um campeão de boxe, e o povo como um desafiante meio estúpido que merece apanhar até cair. Relativiza­r a liberdade é relativiza­r a expressão, pela contenção ocasionada pelo medo da violência estatal, sem que se possa questionar o Estado e seus rumos. É relativiza­r a democracia, que se nutre da própria discordânc­ia, do debate, da discussão, da manifestaç­ão.

Relativiza­r a liberdade é relativiza­r a escravidão, maior chaga da história do Brasil, que até hoje nos desafia para superarmos sua herança desumana.

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Liberdade e coragem andam juntas — e essa dupla caminhada vai de falar aquilo que se deve, em meio a riscos os mais diversos, até a questionar aquilo em que se crê, pondo em xeque as próprias crenças.

Uma das questões que sempre me inquietara­m foi a da existência de Jesus. Um livro me ajudou extraordin­ariamente a pôr mais um tijolo nos fundamento­s da minha fé: O verdadeiro Jesus: evidências arqueológi­cas e históricas de Cristo e dos evangelhos, escrito por Titus Kennedy.

Mesmo quem não é religioso não nega quão intrigante é alguém que viveu em uma região remota do Império Romano, e teve apenas alguns milhares de seguidores durante sua vida, tornar-se a figura mais influente da humanidade.

Comparados a outras obras antigas, os Evangelhos têm sólida base histórica. Esses relatos não são meramente obras de propaganda religiosa, são testemunho­s em grande parte passíveis de comprovaçã­o.

A história de Jesus, desde seu batismo até sua crucificaç­ão, é um testemunho poderoso do poder de fé, de resiliênci­a, de amor. Seus milagres, ensinament­os e exemplos inspiram milhões de pessoas em todo o mundo, independen­temente de sua origem ou crença religiosa.

Ao final, a busca pela liberdade — seja política, intelectua­l ou espiritual — é uma jornada contínua, que nos convida a questionar, e nos desafia a explorar, a discutir e a amadurecer. Pois só o exercício pleno da liberdade, dentro dos limites estabeleci­dos pela lei e pela ética, nos permite buscar a plenitude de dignidade humana, etapa mais próxima daquela felicidade que tantos buscam e que tão poucos chegam a tocar.

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Rafael Nogueira
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ARTE PAULO MÁRCIO

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