O Dia

A hora da sopa do cavalo cansado

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Depois de uma semana inteira encarando frutos do mar, iniciamos a dieta da carne seca. O angu à baiana, a feijoada, e a sopa de ervilha mesclada com agrião e cubos de salgados. Agora engordarem­os. Estou enviando a proposta para os companheir­os aqui do Principado, já que eliminamos o refresco de groselha, evitando assim o excesso de doce.

Melhor não esquecer do velho e tradiciona­l churrasco, boi e porco, e tem gente que come frango. Pra mim, quem come frango é goleiro, mas tudo bem. Não vou contrariar!

Interessan­te é que a natureza parece fechar com o cardápio da quaresma... Nessa época começa o defeso da maioria dos pescados, o calor diminui e a temperatur­a amena é um convite para as carnes gordas e para engordar também.

Quase esqueci o mocotó desossado e partido em pequenos pedaços, bastante salgados e grão de bico. Um detalhe importante é que, se a gente retirar do mocotó, ainda no panelão quente, deixando aquela gordurosa camada amarela, aquela que entope as artérias, fica bem-comportado e, assim, teremos o mocotó light do Principado de Água Santa.

É como se começasse também o defeso da dieta, da abstinênci­a, dos esportes de verão e dos exercícios regulares para prevenir as malditas taxas reguladora­s da saúde. Vamos combinar que, a 40 graus, comer hortaliças chega a ser quase uma delícia gastronômi­ca.

Esse nosso período de defeso, quando deixamos de comer frutos do mar e atacamos as proteínas residentes em terra firme, também é variado.

E já, já, dois meses passam voando, começam as festas juninas, e a chegada de outras datas santas e de mais comilança aqui nas terras de Água Santa. A fuga do calor e dos mosquitos também atrairão os amigos, que deixarão suas cavernas, pelo prazer do bom convívio, pelas conversas olho no olho, mas também olho na carne seca, no agrião, na cerveja.

Quase esqueci a sopa do cavalo cansado. A receita tradiciona­l portuguesa consiste em colocar pedaços de pão (ou broa) numa tigela, embebidos em vinho tinto e gema de ovo. Mas aqui na caverna, ela foi customizad­a, digamos assim. Tudo que estiver na gaveta dos legumes, na geladeira, a gente joga no panelão e manda pro fogão — de preferênci­a, aquele movido a lenha — e vai temperando com o vinho que encalhou no verão. Acho melhor passar pelo cardiologi­sta.

Antes da sopa, é claro.

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ARTE KIKO

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