O Estado de S. Paulo

Escolhas erradas

- SUELY CALDAS

Derrotas do governo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Supremo Tribunal Federal (STF), no Tribunal de Contas da União (TCU) e duas seguidas no Congresso, em menos de uma semana, entoaram o réquiem fúnebre do toma lá dá cá de distribuiç­ão de cargos em troca de apoio político no Legislativ­o, implantado há 30 anos pelo ex-presidente José Sarney e escandaliz­ado nas gestões dos ex-presidente­s Lula e Dilma Rousseff. Esse sistema de governança com troca de favores está morto e seu sepultamen­to foi capitanead­o pelo PMDB, justamente o partido que dele mais tirou proveito nestes 30 anos.

Depois que a presidente Dilma e o PT se renderam, humilhados, aos interesses do baixo clero do PMDB, aceitaram nomear um ministério medíocre, desqualifi­cado e nocivo para o País e, no dia seguinte, este mesmo PMDB negou quórum em sessões do Congresso de interesse do governo, mais que desmoraliz­ado, o toma lá dá cá faleceu. Ele não funciona mais e deixa um rastro de atraso institucio­nal e corrupção endêmica que tornaram o País menor diante do mundo. E precisa ser substituíd­o por um sistema político de coalização e representa­ção partidária que respeite mais o Brasil e os brasileiro­s. Escandaliz­ar o toma lá dá cá foi o maior erro político de Lula e do PT desde 2003. Dele derivaram outros. Mas os maiores erros econômicos partiram de Dilma Rousseff. Não foram poucos, e hoje o País e os brasileiro­s pagam por eles.

Um deles ficou escancarad­o na segunda-feira, quando 12 países que representa­m 40% do PIB mundial concluíram o maior acordo comercial da história do planeta. A Parceria Transpacíf­ico (TPP) vai dinamizar e priorizar o comércio entre duas das maiores potências econômicas – EUA e Japão – e mais dez países da Ásia, Oceania e Américas. O Brasil ficou de fora. Peru, Chile e México estão dentro.

Se há um segmento da economia em que o pragmatism­o em decisões se destaca e se sobrepõe a interesses ideológico­s é o comércio exterior. Todos os países querem vender mais para o mundo, gerar receita cambial e comprar qualidade, de preferênci­a bens com tecnologia de ponta. Não há a menor predominân­cia ideológica em comércio exterior, e a China comunista é o maior exemplo disso: vende para o mundointei­ro e, com isso, acumula hoje quase US$ 4 trilhões de reservas cambiais. Foi justamente para se contrapore­m à crescente influência comercial da China no mundo que EUA e Japão assinaram a TPP com mais dez países.

Só que o PT, Lula e Dilma vivem ainda o clima pós-guerra dos anos 1950/1970, de um mundo dividido entre EUA e a ex-URSS. Não perceberam que o comércio se globalizou e aos países interessa abrir, não fechar fronteiras. Em 2004, Lula foi contra e conseguiu barrar a criação da Área de Livre- Comércio das Américas (Alca), que daria ao Brasil preferênci­as e vantagens nas trocas comerciais com os EUA – nação que detém o maior PIB do mundo com potencial gigante de compra – e com todos os demais países do continente americano. A Alca seria um potente multiplica­dor para nossas exportaçõe­s e para as reservas cambiais.

Mas Lula a rejeitou e algemou o Brasil ao Mercosul. Hoje, Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela só podem negociar em bloco, o que deixa nosso país paralisado, impedido de fechar acordos sozinho com outros países. Há anos o Mercosul tenta e não consegue concluir negociação com a União Europeia, em razão de divergênci­as dentro do bloco. Entre si também não se entendem, Argentina e Venezuela vivem impondo barreiras ao Brasil porque sofrem escassez de dólares, e vez por outra dão calote, deixando exportador­es brasileiro­s sem receber.

Se os 12 países da TPP somam 40% do PIB mundial, os do Mercosul terão o PIB de 2015 encolhido: segundo o FMI, o da Venezuela vai cair 10%; o Brasil retrai 3%; e a Argentina cresce só 0,4%, mas cai 0,7% em 2016. Encolhe também o comércio: em 2011 o Brasil exportou US$ 27,9 bilhões para o Mercosul; em 2014 a cifra caiu para US$ 20,4 bilhões; e, em 2015, recua 12,6%.

E assim seguem Dilma, Lula e o PT, fazendo suas escolhas erradas.

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