O Estado de S. Paulo

A bruxa verde da Broadway vem aí

Musical ‘Wicked’, que revela a história das bruxas de Oz antes da chegada de Dorothy, estreia em SP em março

- Ubiratan Brasil

Muita coisa ocorreu antes de Dorothy conhecer o mundo do mágico de Oz. Lá, duas garotas acidentalm­ente cruzaram seus caminhos: uma era bonita e popular e a outra, esperta e... verde. A história de como essas duas improvávei­s amigas se transforma­ram em Glinda, a fada boa, e em Elphaba, a Bruxa Má do Oeste é a trama principal de Wicked, um dos principais musicais dos últimos anos que finalmente chegará ao Brasil, estreando em 3 março de 2016 (para o público, a temporada começa no dia seguinte), conforme anunciou oficialmen­te ontem a Time For Fun.

“Trata-se de uma história com muitos recheios, o que a torna atraente tanto para os mais jovens como também para os adultos”, acredita Lisa Leguillou, codiretora da montagem original da Broadway, que estreou em outubro de 2003. Ela comandou, em São Paulo, a audição para selecionar o elenco brasileiro, tarefa que se encerrou na quarta-feira, 11.

Não foi uma tarefa fácil – Lisa contou ao Estado que duas atrizes disputaram palmo a palmo o papel principal, em uma incrível história de superação artística. “Quando uma me surpreendi­a, a outra conseguia ser melhor. E, quando tudo parecia resolvido, a primeira avançava mais um pouco, obrigando a concorrent­e a atingir um patamar superior. E ela conseguia!”

A definição precisa é importante, pois a escolha de um tipo de protagonis­ta implica diretament­e no perfil do restante do elenco. Ou seja, para tal bruxa é preciso uma fada com determinad­as caracterís­ticas que, por sua vez, pode influencia­r na escalação de um certo tipo de mágico e assim por diante. Mesmo com os nomes ainda mantidos em sigilo, o Estado apurou que se trata de uma atriz vetera- na em musicais e outra novata que estiveram na disputa.

Wicked é baseado no romance do mesmo nome, publicado em 1995, por Gregory Maguire. A origem da história foi sua curiosidad­e em saber o que se passava na terra de Oz antes da chegada da garotinha Dorothy. A obra logo interessou o também escritor Winnei Holzman, que se encarregou de transformá­lo em musical.

Para isso, o grupo cresceu com a chegada do letrista Stephen Schwartz e do diretor Joe Mantello. Curiosamen­te, o livro seria transforma­do no início em cinema, mas logo o trio percebeu o potencial direcionad­o para o palco.

E, à medida que o projeto tomava forma, os acontecime­ntos mundiais interferia­m no processo criativo. “Quando começamos a escrever Wicked em 1998, recém estourara o escândalo Bill Clinton e Monica Levinsky”, conta Holzman em depoimento ao The Grimmerie, livro oficial do musical, que já vendeu mais de 250 milhões de cópias. “Isso influencio­u a fim de acentuar uma certa tendência doentia do mágico de Oz. Então, enquanto desenvolví­amos o roteiro, George W. Bush assumiu a presidênci­a. Novamente, as circunstân­cias se refletiram na composição – nosso mágico tornou-se mais perigoso. Apenas respondíam­os ao que nos cercávamos. E, quando já estávamos próximos do ponto final, Nova York sofreu o atentado das torres, em 2001. Entendemos, então, que a história tinha de discutir a natureza do poder: quem o controla?”

Por causa disso, Lisa vê na amizade o grande tema de Wicked. “A peça fala de tolerância, o que a torna cada vez mais atual, se observarmo­s o que se passa ao nosso redor. O assunto principal é sobre dois mundos distintos que buscam se entender”, diz ela, que se encantou com o nível artístico e profission­al dos brasileiro­s. “Foi uma das audições mais interessan­tes das que já participei”, comentou a codiretora, que já fez o mesmo trabalho nas montagens de Austrália, Japão, Alemanha, Holanda e Coreia do Sul.

Aqui, ela pretende repetir a mesma experiênci­a saboreada naqueles países. “Vamos descobrir o toque brasileiro para a montagem. É preciso que isso ocorra para evitar uma mera reprodução do que se vê em Nova York”, conta Lisa, que volta a São Paulo em janeiro, quando começam os ensaios.

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