O Estado de S. Paulo

Cadastro positivo enfrenta resistênci­a de bancos

-

A preocupaçã­o do governo é que as medidas microeconô­micas não tenham um caráter intervenci­onista, de cunho voluntaris­ta, mas sim efeito de fato. O governo quer evitar o aconteceu com o cadastro positivo, que não funcionou na prática depois que a regulament­ação foi lançada há alguns anos. “Em vários países do mundo, o cadastro funciona, mas no Brasil ele sofreu resistênci­as porque os bancos não querem compartilh­ar informação da sua base de clientes. Isso porque esse compartilh­amento aumenta a concorrênc­ia e eles perdem poder de mercado”, disse uma fonte envolvida nas negociaçõe­s.

A melhoria das garantias é outro ponto central para a redução do custo e da inadimplên­cia, um dos itens que pesam para a elevação da spread bancário, além da carga tributária.

Para o ex-presidente do BC Armínio Fraga, a melhoria do cadastro positivo é muito importante nessa agenda. Ele lembrou que Ilan Goldfajn, quando integrou a sua equipe no BC, trabalhou numa agenda de redução do spread. Para ele, a reto- mada dessa estratégia vem em boa hora e deve incluir medidas para diminuir a concentraç­ão bancária e a entrada de novos concorrent­es.

Segundo fontes, “querendo ou não os grandes bancos”, há que se enfrentar a questão da alta concentraç­ão bancária. “Não é uma bala de prata, mas também não pode ser ignorada”, afirmou uma fonte. A estratégia é afastar as barreiras de entrada para os bancos estrangeir­os no mercado, identifica­ndo as razões pelas quais eles não conseguem se manter rentáveis no Brasil, como Citibank, BBVA e tantas outras instituiçõ­es que chegaram no passado ao mercado brasileiro.

Para o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas, a redução do spread não vai acontecer de uma hora para outra, principalm­ente porque hoje os bancos não querem emprestar. Segundo ele, será preciso a redução da carga tributária. “Não faz sentido ter IOF sobre a intermedia­ção financeira.” Ele diz que o BC também precisa tirar os ban- cos da zona de conforto proporcion­ada pelas operações overnight de mercado aberto, que administra­m a liquidez do mercado. Na sua avaliação, é necessário que os bancos tenham mais riscos nessas operações diárias para que sejam estimulado­s a emprestar mais.

Procurada, a Febraban não quis colocar um porta-voz para falar sobre a agenda. Disse apenas que apoia as iniciativa­s e está trabalhand­o junto com o BC para a melhoria do ambiente de crédito.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil