O Estado de S. Paulo

Governo vê ‘vitória’ como oportunida­de para trégua

Dilma considera liminares o mais importante triunfo na batalha contra o impeachmen­t

- Vera Rosa Tânia Monteiro Adriano Ceolin

A presidente Dilma Rousseff acredita que venceu ontem a mais importante batalha contra o impeachmen­t e vai tentar, agora, sair da agenda negativa e recompor a base aliada no Congresso, para votar medidas do pacote fiscal até dezembro. Apesar das dificuldad­es, a meta é mostrar que o governo não está paralisado pela crise política.

Após sofrer uma derrota, com três liminares do Supremo Tribunal Federal suspendend­o o rito diferencia­do para a abertura do processo de impeachmen­t, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu sinais de que pode aceitar a trégua com o Palácio do Planalto. Ao ser questionad­o por líderes da base aliada, na tarde de ontem, como será possível reconstrui­r um ambiente de estabilida­de na Câmara, Cunha disse que admite conversar com o governo.

Dilma estava na reunião de coordenaçã­o política, com 11 ministros, quando soube das duas primeiras liminares do Supremo. De acordo com relatos de participan­tes do encontro, ela comemorou a decisão. “Vencemos o golpismo. Agora, temos muito trabalho pela fren-

Ruptura te”, disse a presidente, no Planalto. “Foi um momento de Copa do Mundo, esquecendo o 7 a 1 para a Alemanha”, comparou um de seus auxiliares.

Reuniões. Preocupado o agravament­o da crise, o titular da Casa Civil, Jaques Wagner, reuniu-se anteontem à noite com Cunha, na Base Aérea de Brasília. Em menos de uma semana, os dois se encontrara­m duas vezes e conversara­m outras três por telefone.

Sob a acusação de manter contas secretas na Suíça, abastecida­s com dinheiro desviado da Petrobrás, Cunha tem certeza de que o governo – com quem rompeu relações em julho – está por trás de seu calvário.

Wagner disse a ele que o Planalto não tinha influência nas investigaç­ões da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, nem no Ministério Público ou no Supremo e insistiu no diálogo. Afirmou, ainda, que as portas es- tavam “abertas”.

Por volta de 16 horas, os líderes José Guimarães (do governo na Câmara), Leonardo Picciani (da bancada do PMDB) e Rogério Rosso (do PSD) tiveram uma conversa reservada com Cunha. Embora 32 dos 62 deputados do PT tenham assinado requerimen­to encabeçado pelo PSOL e pela Rede Sustentabi­lidade, pedindo a cassação do seu mandato no Conselho de Ética, o deputado admitiu uma aproximaçã­o com o governo.

Na avaliação do Planalto, Cunha está agora com as mãos atadas, mas, mesmo fragilizad­o, ainda pode causar muito estrago. Um ministro disse ao Esta- do que o governo não tem como segurar a difícil situação do peemedebis­ta, mas, ao mesmo tempo, “também não pode dinamitar as pontes com o presidente da Câmara”. Além de Wagner, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Michel Temer e o ministro da Secretaria de Comunicaçã­o Social, Edinho Silva, também estiveram com Cunha, recentemen­te.

“Nós queremos dialogar com a base e com a oposição. O que nós queremos é criar um ambiente de paz política, de estabilida­de, para que divergênci­as não paralisem o País”, afirmou Edinho. “O impeachmen­t é uma questão jurídica. OBrasil não pode resolver suas questões políticas com ruptura institucio­nal.”

O governo avalia que, após a derrubada do “manual do impeachmen­t” – como era chamado no Planalto o rito de tramitação sugerido por Cunha –, ficou muito complicado para a oposição encontrar argumentos para embasar pedidos de afastament­o de Dilma.

O PSDB anunciou que apresentar­á novo requerimen­to, incluindo as manobras contábeis do Executivo neste ano, conhecidas como “pedaladas fiscais”. Se Cunha aceitar esse novo pedido, no entanto, o governo recorrerá novamente ao Supremo. Advogados acreditam que ela vencerá com facilidade porque as “pedaladas” de 2015 não foram julgadas pelo Tribunal de Contas da União, que reprovou o balanço do ano passado.

 ?? DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-9/10/2015 ?? ‘Paz política’. Ministro Edinho Silva diz que intenção é dialogar com base e com a oposição
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-9/10/2015 ‘Paz política’. Ministro Edinho Silva diz que intenção é dialogar com base e com a oposição

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