O Estado de S. Paulo

Dilma se diz alvo de ‘moralistas sem moral’

Presidente acusa adversário­s de tentar, desde a derrota eleitoral, construir de maneira artificial processo para ‘encurtar seu caminho ao poder’

- Ricardo Galhardo Ana Fernandes André Ítalo Rocha

Em um dos discursos mais contundent­es desde que se lançou candidata pela primeira vez, em 2010, a presidente Dilma Rousseff acusou na noite de ontem seus adversário­s de tentar, desde o dia seguinte à derrota eleitoral em 2014, construir de maneira artificial um processo de impediment­o com o objetivo de “encurtar seu caminho ao poder” por meio de um “golpismo escancarad­o”. Ela também atacou o que chamou de “moralistas sem moral”.

Em tom fortemente emocional, Dilma, que chegou a interrompe­r o discurso com a voz embargada e os olhos marejados, se fiou na falta de indícios que a envolvam diretament­e em irregulari­dades e casos de corrupção para desafiar os defensores do impeachmen­t.

“Eu me insurjo contra o golpismo e suas ações conspirató­rias. Pergunto com toda franqueza: quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra. Quem?”, questionou a presidente na abertura do 12º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhado­res (CUT).

Dilma decidiu comparecer na última hora, depois que o Su- premo Tribunal Federal concedeu três liminares sustando o processo de impeachmen­t no Congresso. Do ato também participou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cercada de representa­ntes de movimentos sociais aliados, a presidente conclamou os trabalhado­res a fazerem a defesa de seu mandato.

“Ninguém deve se iludir, nenhum trabalhado­r deve baixar a guarda. É preciso defender a le- galidade e a normalidad­e com toda energia”, afirmou. Nós precisamos, amigas e amigos da CUT, de estabilida­de política, sim”.

Segundo ela, o que está em disputa é muito mais do que os pouco mais de três anos de governo que lhe restam. “Temos muita coisa em jogo. Não é pouca coisa. É a democracia pela qual nós lutamos, o voto popular como base do poder, inviolabil­idade de um mandato concedido pelo povo.”

Dilma acusou a oposição de tentar criar artificial­mente um atalho para tirá-la do poder e voltar ao governo. “Nós vivemos uma crise política séria e que nes- te exato momento se expressa na tentativa dos opositores ao nosso governo de fazer o terceiro turno que começou no dia seguinte às eleições. Agora ela se expressa na busca incessante da oposição de encurtar seu caminho ao poder, de dar um salto e chegar ao poder fazendo um golpe.”

Para a presidente, há “obsessão dos inconforma­dos com a derrota nas urnas em obstruir o mandato de uma presidente contra quem não existe acusação de crime algum”. Posso dizer a vocês. Lutaremos e não deixaremos prosperar”, disse. “Querem criar uma onda que leve de qualquer maneira ao encurtamen­to do meu mandato sem fato jurídico ou qualquer materialid­ade que me desabone.”

A presidente classifico­u as tentativas de impeachmen­t como golpismo escancarad­o. “O que antes era inconformi­smo por ter perdido a eleição agora transformo­u-se num claro desejo de retrocesso político, de ruptura institucio­nal. E isso tem nome, isso é um golpismo escancarad­o”.

Ela se disse alvo de “moralistas sem moral” ao enaltecer as ações dos governos petistas no combate à corrupção. “A sociedade brasileira conhece os chamados moralistas sem moral. E os conhecem em parte porque o meu governo e o governo do presidente Lula propiciou e estimulou o mais enérgico combate à

‘Biografia limpa’ corrupção da nossa história.”

O discurso foi classifica­do por alguns presentes como histórico. “Foi o melhor discurso da vida dela”, disse o ex-secretário nacional dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. Lula também classifico­u a fala da sua sucessora como “histórica” e “antológica”.

‘Fora Levy’. Por outro lado, ele repetiu que o governo não pode se restringir a adotar o discurso daqueles que perderam a eleição. “Nós ganhamos a eleição com um discurso e a impressão que passamos para a sociedade é que nós adotamos o discurso dos que perderam", afirmou. “Esse País não pode ficar falando em cortes mais uma semana ou mais um mês, esse País precisa falar em cresciment­o”, completou. Na sequência, o público gritou “Fora Levy”, em referência ao ministro da Fazenda Joaquim Levy.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO-13/10/2015 Ato. A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula no congresso da CUT, em São Paulo
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