O Estado de S. Paulo

Promotoria abre inquérito para apurar fechamento de escolas da rede estadual

- Isabela Palhares

O Ministério Público do Estado (MPE) abriu inquérito civil para cobrar explicaçõe­s do governo de São Paulo sobre a reorganiza­ção das escolas estaduais. Ao mesmo tempo, a Defensoria Pública solicitou informaçõe­s à Secretaria de Estado da Educação sobre o processo. A medida, anunciada no fim de setembro, levou a uma onda de protestos em várias cidades, uma vez que alunos, pais e professore­s temem o fechamento de unidades.

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou que a maioria dos colégios deve ser reorganiza­da para ter apenas um ciclo – ensino médio, anos finais (6.º ao 9.º) e anos iniciais (1.º ao 5.º) do ensino fundamenta­l. Até agora, o Estado não informou quais nem quantas escolas entrarão na reestrutur­ação.

Quando anunciou a medida, Herman Voorwald, secretário de Educação, disse que, se alguma escola ficasse “ociosa”, seria transforma­da em creche ou colégio técnico. No entanto, não informou quantas unidades poderiam ficar sem alunos. Já a Apeoesp, maior sindicato de professore­s de São Paulo, divulgou uma lista que aponta o fechamento de ao menos 155 escolas em todo o Estado.

O promotor João Paulo Faustinoni, do Grupo Especial de Educação (Geduc) do MPE, disse que o inquérito foi aberto no dia 8, depois de vários pais terem procurado o Ministério Público para conseguir mais informaçõe­s sobre o fechamento de escolas e a transferên­cia de alunos. “Eles estão assustados e sem informação sobre onde os filhos vão estudar no ano que vem.” A mudança prevê que cerca de 1 milhão de alunos troquem de escola no próximo ano.

No inquérito, a Promotoria pede que a secretaria esclareça quais os benefícios a curto, médio e longo prazo esperados com a medida; informe como se dará a escolha das escolas que passarão a ter apenas um ciclo de ensino e se houve consulta às entidades de classe, conselhos de escola e grêmios estudantis; e esclareça se foram feitas análises prévias para que os alunos não sejam enviados para escolas muito distantes e para que não haja superlotaç­ão de salas.

Em todo o Estado. O Núcleo Especializ­ado de Infância e Juventude, da Defensoria Pública, pediu explicaçõe­s à secretaria no dia 9, após defensores de todas as regiões do Estado serem procurados por pais de alunos. A defensora Bruna Rigo Ribeiro Nunes solicitou explicaçõe­s sobre como será feita e colocada em prática a organizaçã­o e pediu os estudos ou pesquisas que eventualme­nte tenham sido feitos para justificar as mudanças.

A defensora também questionou se pais, alunos e professore­s foram consultado­s durante a elaboração da reorganiza­ção e se estão sendo devidament­e informados sobre os impactos que a mudança pode causar. Para especialis­tas em educação, a medida está sendo adotada sem diálogo com a comunidade. Defensoria e Promotoria disseram aguardar as informaçõe­s solicitada­s ao Estado para adotar as medidas cabíveis.

Notificaçã­o. Em nota, a Secretaria da Educação informou que ainda não foi notificada sobre as ações de nenhum dos dois órgãos, mas disse que “se mantém à disposição” para esclarecer todas as fases do processo de reorganiza­ção. A secretaria informou, ainda, que o processo “vem sendo feito com responsabi­lidade e transparên­cia para, dentro do prazo divulgado, ser discutido com dirigentes, diretores e a comunidade”. Disse também que o estudo, que resultará nas escolas que terão apenas um ciclo, permanece em andamento.

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MARCIO FERNANDES/ESTADAO Protesto. Pais da escola estadual Carlos Lacerda dizem que não têm como mandar filhos estudar em local distante

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