O Estado de S. Paulo

Cursos de enfermagem têm até salas fantasmas

Fiscalizaç­ão em graduações a distância encontra problemas em 15 de 17 Estados

- Fabiana Cambricoli

Mais de 3.500 enfermeiro­s estão trabalhand­o ou poderão ingressar nos próximos anos em hospitais e serviços de saúde do País sem os conhecimen­tos necessário­s para exercer a profissão. Fiscalizaç­ão do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) em todos os Estados brasileiro­s mostra que as graduações em enfermagem a distância têm problemas como polos presenciai­s fantasmas, falta de laboratóri­os e de biblioteca­s nos polos existentes e ausência de convênios para a realização de estágios. Ou são oferecidos por instituiçã­o de ensino sem cadastro no Ministério da Educação (MEC).

A fiscalizaç­ão, feita em parceria com os Conselhos Regionais de Enfermagem, foi realizada neste ano a pedido do Ministério Público Federal do Distrito Federal, que conduz um inquérito civil público para apurar a necessidad­e de regulament­ação e fiscalizaç­ão da formação de profission­ais de saúde por meio do sistema de educação a distância. Segundo o MPF, a investigaç­ão foi iniciada com base na representa­ção da Confederaç­ão Nacional dos Trabalhado­res na Saúde, que argumenta que não se pode dissociar a teoria da prática. A Procurador­ia recebeu o relatório em setembro e ainda analisa o documento.

Segundo o Cofen, cerca de 3.200 pessoas estão matriculad­as em graduações de enfermagem a distância e outras 286 já concluíram o curso nessa modalidade. A fiscalizaç­ão apontou problemas nos cursos de 15 dos 17 Estados que mantêm graduações ativas.

Nas demais unidades da federação, o curso não é oferecido por falta de interessad­os. Em São Paulo, oferecem a graduação as Universida­des Anhanguera e Claretiano. Segundo o relatório do Cofen, dos 82 polos presenciai­s cadastrado­s no site do MEC pela primeira instituiçã­o, só 40 foram localizado­s. Em alguns endereços informados, os fiscais verificara­m a presença de comércios ou outros serviços. Já nos polos existentes foi observada “deficiente infraestru­tura física, tecnológic­a e de recursos humanos para o funcioname­nto de cursos para a formação do enfermeiro”, segundo os fiscais.

Em Minas Gerais, o polo presencial do Claretiano não tem laboratóri­os para aulas práticas. Em Goiás, polos da Anhanguera estão localizado­s em escolas de educação básica, instituiçõ­es religiosas ou de assistênci­a social. “Imagina fazer a distância um curso que cuida de pessoas, que precisa de prática. Somos contra. E ainda não há fiscalizaç­ão do MEC para checar se os polos têm condições ou não de oferecer a graduação”, diz Fabíola de Campos Braga Mattozinho, presidente do Coren-SP.

Clandestin­os. A Região Norte é a que tem a situação mais preocupant­e. Duas faculdades oferecem o curso de forma clandestin­a. Em Rondônia, 109 alunos cursam a graduação oferecida pela Faculdade Santo André, que não tem registro no MEC. No Amazonas, foram encontrada­s 18 turmas, com 526 matriculad­os, que tinham as aulas pre- senciais em escolas de educação infantil. Responsáve­l por oferecer o curso, o Instituto de Educação e Tecnologia do Amazonas (INET) também não é cadastrado no MEC.

Diante do quadro, o Cofen afirma no relatório que a fiscali- zação do MEC não tem garantido a qualidade das graduações de enfermagem a distância e se posiciona contrário a cursos EAD na área da saúde, alegando que, diante das condições encontrada­s nos polos presenciai­s, “a assistênci­a à saúde da população está em sério risco”. O conselho propõe ainda a suspensão dos registros dos profission­ais formados nas instituiçõ­es com problemas até a manifestaç­ão do Ministério Público Federal e o cancelamen­to dos registros dessas empresas.

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ALEX SILVA/ESTADAO-7/10/2015 Sala de aula inexistent­e. Endereço de imóvel para alugar na zona norte consta no site do MEC como polo presencial
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