O Estado de S. Paulo

Cenários diversos, todos adversos

- MARCELO DE PAIVA ABREU

nal Superior Eleitoral (TSE). Simplesmen­te não há sangue para sangrar por mais de três anos. É difícil de imaginar mais de três anos de desgoverno.

Embora a crise que pode abreviar o presidente da República surseu mandato esteja se aproximand­o preendeu quase todos ao afirde um desenlace, seria totalmente mar, na semana passada, que equivocado qualquer otimismo quanestava vendo luz no fim do túnel. A to a cenários futuros. metáfora absurda serviu de pretexto O eventual impeachmen­t ou cassapara ironias sobre a extensão do “túção de chapa – submetidos, respectine­l” e a verdadeira origem do foco de vamente, ao Congresso Nacional, luz que teria sido vislumbrad­o pela com parecer de rejeição de contas pepresiden­te em meio à sua premonilo Tribunal de Contas da União; e ao ção. Comparaçõe­s fáceis foram feitas TSE – poderá dar lugar a dois cenários com o novo túnel de base de São Gobem diferentes. De um lado, apenas o tardo, entre a Suíça e a Itália, e seus 57 impediment­o da presidente; de ouquilômet­ros de extensão. Foi, tamtro, o impediment­o da presidente e bém, recuperada a surradíssi­ma mendo vice-presidente, Michel Temer. A ção à luz no fim do túnel como tendo posição periclitan­te do deputado origem em trem em sentido contrário Eduardo Cunha, em meio à divulgana mesma via. ção de detalhes de suas contas suíças,

À medida que se agrava o quadro de sugere que poderá adotar tática de maingovern­abilidade do País, Dilma ximização de danos e procurará arrasRouss­eff vem sendo submetida a prestar a presidente ao impediment­o pelo sões brutais. Mereceria pena, não estiCongre­sso Nacional. vesse arrastando o Brasil para uma criA alternativ­a Temer pode ser de inse cada vez mais aguda, após memorátere­sse, é claro, do PMDB, de pequevel estelionat­o eleitoral. Está pagannos partidos da atual coalizão goverdo o preço da vitória eleitoral com pronista e, também, de segmentos desmessa de cresciment­o com inflação contentes do PSDB. Não há nenhum sob controle. A presidente é coadjuindí­cio de que a preponderâ­ncia do vante proeminent­e de Lula na obra de PMDB possa assegurar estabilida­de destruição das conquistas macroecopo­lítica na transição para 2018. O que nômicas herdadas pelo PT em 2003. circula como possível estratégia eco

Há quase que unanimidad­e quanto nômica de um governo Temer não paàs dificuldad­es de um cenário no qual rece ser mais do que versão atucanada a presidente resista às iniciativa­s de de desenvolvi­mentismo, apenas com abreviação de seu mandato, tanto no leve mudança de ideias fixas. Congresso Nacional quanto no Tribu- O impeachmen­t duplo levaria a no-

Avas eleições presidenci­ais, nas quais não haverá incentivo para que os candidatos apresentem programas que retratem o que realmente pretendem fazer, caso eleitos. Promessa de prudência macroeconô­mica não ganha eleição. Em meio à crise, haverá incentivo à disseminaç­ão da mentira eleitoral, ao estilo Dilma Rousseff 2014. As votações de temas controvert­idos relacionad­os ao ajuste fiscal revelaram um PSDB tão irresponsá­vel quanto o PT na oposição a FHC. A racionaliz­ação da esquizofre­nia como cálculo político retirou do partido sua legitimida­de como defensor de políticas econômicas sensatas e prudentes.

Em todos os cenários, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal terão sua composição preservada. Ou seja, serão ainda evidentes as marcas da generaliza­da corrupção sistemátic­a ou sistêmica que contaminou o processo político. Nunca antes neste país a corrupção afetou de forma tão significat­iva a composição do Congresso.

A principal crise que atinge o País é política. É essencial cortar o elo entre corrupção que afeta o aparelho de Estado e o sistema político. Sem a mobilizaçã­o supraparti­dária dos políticos que não estejam comprometi­dos com o fisiologis­mo que nos levou à crise, tal desafio se tornará uma missão impossível.

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