Dólar dispara 3,23% e fecha cotado a R$ 3,87
Desaceleração da economia chinesa e preocupação com o impasse político no Brasil levaram a moeda à maior alta desde 13 de março
O dólar teve ontem a maior alta diária desde 13 de março. Pressionado pelas preocupações com a economia da China e a situação política no Brasil, a cotação da moeda americana chegou perto de R$ 3,90.
Na semana passada, o câmbio havia dado uma trégua e recuado para a faixa de R$ 3,75 na sexta-feira. Ontem, o dólar à vista disparou para R$ 3,8720, uma alta de 3,23%. No mercado futuro, a cotação para novembro subiu 3,29%, para R$ 3,9190.
A forte queda das importações da China em setembro, o que prejudica países vendedores de commodities como o Brasil, deu suporte para o avanço do dólar em relação a várias moedas. O movimento foi intensificado pelo cenário nebuloso em Brasília, com a disputa em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
“A China deu motivos para o movimento recente de baixa do dólar ser revertido”, disse Cleber Alessie Machado Neto, operador da H. Commcor DTVM. “Aquela folga que vimos para as moedas de países emergentes na semana passada terminou.”
A China divulgou na madrugada de ontem um superávit co- mercial de US$ 60,3 bilhões em setembro, bem acima da previsão de US$ 47,6 bilhões. O número em si parece bom, mas a abertura dos dados mostrou que as exportações caíram 3,7% e as importações desabaram 20,4%. Não é à toa que os papéis da Vale despencaram na Bovespa e as moedas de exportadores de commodities foram punidas ao redor do mundo.
Movimento especulativo. As dúvidas sobre a política nacional ajudaram a pressionar a cotação ao longo do dia. “O mercado volta a ficar atento aos acontecimentos em Brasília, em especial no Congresso. E a questão não é apenas política, é econômica também: se o ajuste fiscal demorar a passar pelo Congresso, pode ocorrer um novo movimento especulativo”, disse José Carlos Amado, operador da Spinelli Corretora.
Entre as medidas de ajuste fiscal, os operadores de mercado citaram a volta da CPMF e a manutenção dos vetos da presidente Dilma Rousseff a medidas de aumento de gastos.
O possível processo de impeachment também trouxe estresse aos negócios. Deputados do PT conseguiram no Supremo Tribunal Federal (STF) o deferimento de mandados de segurança contra o rito adotado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. As decisões impedem que a oposição, caso Cunha rejeite um pedido de afastamento da presidente, entre com recursos para levar a questão do impeachment a plenário.
Impeachment. A indefinição sobre o andamento do proces- so de impeachment – principalmente em relação a quanto tempo levaria – provocou mais nervosismo. “Quanto mais demorar o impeachment, pior. Uma semana de atraso agora poderá significar meses lá na frente”, comentou um profissional que prefere não se identificar.
No geral, os adiamentos de questões-chave em Brasília são vistos como negativos e podem trazer de volta o medo de rebaixamento do País.
A disparada do dólar ocorreu, vale destacar, em um ambiente de poucos negócios, o que tende a amplificar as oscilações. Na clearing de câmbio da BM&FBovespa, o giro somou apenas US$ 883,2 milhões.
O Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenção, para tentar acalmar o mercado de câmbio. Ontem cedo, o BC vendeu 10.275 contratos de swap (US$ 512,9 milhões) para rolagem dos vencimentos de novembro.
No exterior, perto das 18 horas, o dólar subia ante a maior parte das demais divisas de exportadores de commodities ou emergentes: 1,62% ante o dólar australiano; 0,28% em relação ao dólar canadense; 1,79% em comparação ao rand sul-africano; e 1,15% ante o peso chileno.